sábado, 22 de março de 2008

Entrevista com o diretor-presidente da Ação Cultural (triênio 2004-2007)- Zezito de Oliveira


Publicada na edição impressa do Informativo da Ação Cultural – Março de 2006
JAC: Como surgiu a Ação Cultural?
ZEZITO: Surgiu efetivamente a partir das reuniões da Rede PROVAI (Rede de Agentes do Programa de Valorização de Iniciativas Culturais), no ano de 2004. Na ocasião, reunimos artistas, produtores culturais da periferia e educadores, que concluíram que se fazia necessário criar uma entidade que possibilitasse a representação jurídica para fazer jus às exigências colocadas pelo poder público e pela sociedade em geral, no que diz respeito à busca de apoio e patrocínios para garantir a consolidação e ampliação das atividades culturais.

JAC: Quais as principais conquistas obtidas?
ZEZITO: No ano de 2004, ainda como Rede PROVAI, conseguimos a aprovação pela câmara de vereadores da lei que cria o programa VAI e que depende da FUNCAJU para que cumpra sua finalidade, que é destinar um pequeno subsídio financeiro para projetos culturais das comunidades.
Já como Ação Cultural, conseguimos realizar o I Fórum Popular de Cultura, em 2005, que resultou na Carta Cultural da periferia. Como eu disse numa reunião com artistas em Pirambu, a Carta nos aponta a direção que o movimento cultural deve tomar se quiser mudar os rumos dessa história de desinteresse e descaso que o poder público e uma parcela expressiva da sociedade têm pela cultura. Lembro de uma frase conhecida que diz: “Nenhuma corrente de ar ajuda o navegador que não sabe aonde quer chegar”. A carta nos dá pistas interessantes de aonde chegar (objetivos) e como chegar (método).

JAC: Que pistas são estas?
ZEZITO: Destaco como uma das mais importantes aquelas que tratam dos aspectos relacionados aos limites dos próprios artistas e produtores. Achei muito importante esse aspecto porque é mais fácil criticar e cobrar dos outros do que de nós mesmos. Considero um sinal de maturidade que espero contribua para um crescimento interno e interior dos agentes culturais; no primeiro caso enquanto segmento social, no segundo como indivíduos. Vale a pena transcrevermos algumas frases: É preciso superar o estrelismo e o individualismo existente no meio artístico; Falta amor próprio e auto respeito por parte dos artistas e produtores. Um exemplo é a falta de iniciativa de muitos artistas e grupos populares que ficam esperando o financiamento de projetos por parte do governo; Sofremos muito com o imediatismo do próprio artista, reconhecemos que precisamos nos organizar mais, e o fórum é o caminho para essa perspectiva de um futuro melhor; Há necessidade de se unir os grupos para fortalecer as ações culturais.

JAC: Quais são as perspectivas da associação para o ano de 2006?
ZEZITO: Esperamos realizar o fórum popular 2006 com uma estrutura maior. Para isso estamos enviando o projeto para as agências de cooperação e empresas estatais visando obter o apoio financeiro necessário. Como não é um projeto caro e que tem como objetivo buscar a capacitação de agentes multiplicadores para melhorar a qualidade dos trabalhos quanto aos aspectos metodológicos esperamos ser bem sucedidos. Trata-se de focalizar nesse segundo e nos próximos fóruns as questões relacionadas ao como fazer melhor, que é, nas palavras de Álvaro Pantoja, do Centro Nordestino de Animação Popular, um dos aspectos mais importantes para o sucesso de um projeto sócio-cultural. A Carta Cultural apontou alguns desafios nesses aspectos da metodologia e através das palestras e oficinas esperamos enfrentá-los.
JAC: Que desafios são esses?
ZEZITO: Mais uma vez é importante retomarmos a leitura da Carta: “Ampliar o trabalho de conscientização da juventude na perspectiva de valorização da cultura popular; Produzir com qualidade e fortalecer a identidade cultural de nosso povo para atingir uma população com a mente massificada pela cultura de consumo imediato (a pasteurização cultural); Preparar pessoas competentes para trabalhar com cultura junto a crianças e jovens; Incluir mais jovens nas ações culturais com o apoio da sociedade”.
O projeto do fórum 2006 se propõe a reunir artistas/intelectuais orgânicos que darão uma importante contribuição para nos ajudar a encontrar pistas, alternativas, dicas, etc. relacionados a essas questões.

JAC: Como você avalia a gestão do Presidente Lula na área da cultura?

ZEZITO: Na minha opinião o governo federal dá uma lição para todos os prefeitos e governadores de como gerir bem esta área. O Ministro Gilberto Gil é uma pessoa que entende do assunto que gosta do que faz e de quem faz, que sabe ouvir e que está antenado com uma visão integral da cultura. Que vê a cultura gerando empregos e renda, contribuindo para melhorar a educação, a saúde, diminuindo os índices da violência urbana, fortalecendo nossas identidades, enfim contribuindo para a felicidade geral da nação.
Claro que o nosso querido ministro da cultura não poderia fazer muita coisa se não contasse com a colaboração do Presidente que garantiu um aumento de receita no orçamento da união, respeitou a autonomia do ministério e não utilizou a vaga como moeda de troca na época de recomposição da equipe ministerial. Vale ressaltar que mesmo com aumento em relação ao governo anterior, o orçamento do Ministério ainda é pequeno, mas acredito que em um segundo governo isso se modifique, por que o Presidente Lula sabe e nós também que é essa e uma área que apresenta uma das melhores performances em termos de realizações no seu governo.

JAC: E você acredita na reeleição do Presidente?

ZEZITO: Para os artistas ou produtores emergentes como eu e tanta gente boa que nunca pode nem sequer sonhar em ter acesso a dizer o que pensa sobre a melhor forma de gerir a cultura em nosso país e ver isso transformado em diretrizes e ações e que no passado para ter acesso aos recursos públicos dependia de bilhetiinhos de recomendação de artistas ou intelectuais influentes e de um telefonema ou carta de políticos a reeleição do Presidente Lula é necessária.

JAC: E as denuncias sobre corrupção?

ZEZITO: O povo não é burro não, apesar da tentativa de manipulação por parte das rádios, jornais e televisões em sua maioria de propriedade de políticos ligados aos partidos de oposição e cujas concessões, na maioria, foram obtidas graças ao mesmo esquema de corrupção. Lembra da aprovação da lei que aprovou mais um ano de mandato para o ex-presidente Sarney em troca de um festival de concessões de emissoras? O povo sabe que o caixa dois e o mensalão sempre aconteceram e que isso faz parte da engrenagem que os ricos e poderosos criaram para se perpetuarem no poder. E foram coisas dessa natureza que garantiram a poder das elites durante cinco séculos e isso é tão verdadeiro que medidas como o financiamento público de campanha, a fidelidade partidária, o voto distrital que poderiam diminuir a necessidade de utilização desses tipos de praticas, não são discutidos pelo Congresso e nem debatidos por aqueles que refletem os interesses e a opinião das elites dominantes.
O que estamos vendo por aí é gente que fizeram suas carreiras políticas e suas fortunas às custas de roubos, saques e violência contra os pobres da nação posar de gente honesta, decente e sem nenhum defeito de fabricação. Ora, os fariseus na bíblia foram bem mais honestos quando repreendidos por Jesus, desistiram de jogar pedras em Madalena. Mas a política é isso mesmo. O PT quando esteve na oposição também bateu pesado.

JAC: E a gestão municipal e estadual?

ZEZITO: Já tivemos dias melhores. A primeira gestão de Jackson Barreto em meados dos anos 80 foi exemplar, a segunda ficou bem aquém do esperado. O primeiro ano do Prefeito Deda foi bem melhor do que os seguintes.
Em termos de governo do estado, o atual governador foi melhor na primeira gestão, e isso já faz muitos anos, quando construiu e manteve o Centro de Criatividade em grande estilo e deu continuidade as oficinas culturais oferecidas pela extinta Fundação Estadual de Cultura (FUNDESC) que deram uma inestimável contribuição para a formação de muitos artistas, técnicos, produtores e gestores que estão por aí em atividade.
Mas essa realidade pode mudar, se o próximo governador buscar os melhores quadros para cuidar da gestão do setor cultural e disponibilizar as condições mínimas necessárias. È fundamental que esses quadros tenham um perfil bem semelhante ao do Ministro Gil e de sua equipe e que busque recolher o que foi feito de melhor no passado em nosso estado, buscando também sintonizar as antenas com aquilo que é pensado e produzido em Brasília no âmbito da cultura. Ta ligado?

Leia também:
http://www.overmundo.com.br/overblog/aracaju-nos-seus-150-anos-e-a-cultura-que-fica

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