segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Natal: ver com os olhos do coração & Meus sonhos de Natal

É o que mais nos falta hoje: a capacidade de resgatar a imaginação criadora para projetar melhores mundos e ver com o coração. Se isso existisse, não haveria tanta violência, nem crianças abandonadas nem o sofrimento da Mãe Terra devastada.

Leonardo Boff

Somos obrigados a viver num mundo onde a mercadoria é o objeto mais explícito do desejo de crianças e de adultos. A mercadoria tem que ter brilho e magia, senão ninguém a compra. Ela fala mais para os olhos cobiçosos do que para o coração amoroso. É dentro desta dinâmica que se inscreve a figura do Papai Noel. Ele é a elaboração comercial de São Nicolau – Santa Claus - cuja festa se celebra no dia 6 de dezembro. Era bispo, nascido no ano 281 na atual Turquia. Herdou da família importante fortuna. Na época de Natal saia vestido de bispo, todo vermelho, usava um bastão e um saco com os presentes para as crianças. Entregava-os com um bilhetinho dizendo que vinham do Menino Jesus.

Santa Claus deu origem ao atual Papai Noel, criação de um cartunista norte-americano Thomas Nast em 1886, posteriormente divulgado pela Coca-Cola já que nesta época de frio caía muito seu consumo. A imagem do bom velhinho com roupa vermelha e saco nas costas, bonachão, dando bons conselhos às crianças e entregando-lhes presentes é a figura predominante nas ruas e nas lojas em tempo de Natal. Sua pátria de nascimento teria sido a Lapônia na Finlândia, onde há muita neve, elfos, duendes e gnomos e onde as pessoa se movimentam em trenós puxados por renas.

Papai Noel existe? Esta foi a pergunta que Virgínia, menina de 8 anos, fez a seu pai. Este lhe respondeu:”Escreva ao editor do jornal local! Se ele disser que existe, então ele existe de fato”. Foi o que ela fez. Recebeu esta breve e bela resposta:

Sim, Virgínia, Papai Noel existe. Isto é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção. E você sabe que tudo isto existe de verdade, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Como seria triste o mundo se não houvesse o Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virgínias como você. Não haveria fé das crianças, nem a poesia e a fantasia que tornam nossa existência leve e bonita. Mas para isso temos que aprender a ver com os olhos do coração e do amor. Então percebemos que não há nenhum sinal de que o Papai Noel não exista. Se existe o Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá sempre que houver crianças grandes e pequenas que aprenderam a ver com os olhos do coração.

É o que mais nos falta hoje: a capacidade de resgatar a imaginação criadora para projetar melhores mundos e ver com o coração. Se isso existisse, não haveria tanta violência, nem crianças abandonadas nem o sofrimento da Mãe Terra devastada.

Para os cristãos vale a figura do menino Jesus que tirita sobre as palhinhas sendo aquecido pelo bafo do boi e do jumento. Disseram-me que ele misteriosamente através de um dos anjos que cantaram nos campos de Belém enviou a todas as crianças do mundo uma cartãozinho de Natal no qual dizia:

Queridos irmãozinhos e irmãzinhas:

Se vocês olhando o presépio e me virem aí, sabendo pelo coração que sou o Deus-criança que não veio para julgar mas para estar, alegre, com todos vocês,

Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas, especialmente no mais pobrezinhos, a minha presença neles,

Se vocês conseguirem fazer renascer a criança escondida no seus pais e nos adultoss para que surja nelas o amor a ternura,

Se vocês ao olharem para o presépio perceberem que estou quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta situação desumana e desejarem que ela mude de fato,

Se vocês ao verem a vaca, o boi, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante pensarem que o universo inteiro recebe meu amor e minha luz e que todos, estrelas, pedras, árvores, animais e humanos formamos a grande Casa de Deus,

Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda e recordarem que sempre há uma estrela sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos,

Então saibam que eu estou chegando de novo e renovando o Natal. Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia que só Deus sabe quando estaremos todos juntos na Casa de nosso Pai e de nossa Mãe de bondade para vivermos bem felizes para sempre.

Belém, 25 de dezembro do ano 1.




Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Meus sonhos de Natal

Há poucos dias sonhei que o mundo estava todo colorido e brilhante. Árvores com luzes e estrelas, bonecos lindos de papel e de barro. Um sonho fantástico. Pouca correria, muita solidariedade e partilha. Quase não havia pobres esmolando e nem violência como alunos espancando os professores e nas igrejas muito compromisso com as atividades sociais. Uma beleza. Ufah, acordei.

Um sonho. Na verdade faltam três dias para o Natal, talvez está expectativa tenha me inebriado. Perçebo que a soceidade do consumo e da pressa vive inebriada com a véspera. Tudo hoje é comemorado na véspera. Aniversário natalício, festa de casamento, carnaval e até Natal. Tudo com antecedência e sem muita ênfase no sentido daquilo que se faz. A sociedade do descartável está acima dos valores perenes. Na cidade e no sítio, no deserto e na companhia dos mais finos castelos, todas as pessoas e tudo se esvai rapidamente.

O sonho está acima dos nossos esquemas humanos invadidos pelo desejo de gozar a vida sem deixá-la revelar-se. O sonho está além de nossas estruturas sóciais, políticas e religiosas. Está no horizonte da transcendência, está na figura dos pastores de Bélem de Judá, nos vaqueiros do Nordeste brasileiro, no choro da criança haitiana. O sonho projeta nossa esperança. Nos faz ver além do material, nos ajuda a divinizar a manjedoura da nossa existência.

Creio que preciso sonhar mais, lutar mais. Não será preciso adormecer. O tempo urge. Basta viver e sonhar mais. Quem sabe meu sonho, seu sonho, nosso sonho, nos permitirá crer mais, apostar mais, defender mais a vida que se manifesta numa criança tão indefesa e na nostalgia de idosos fragilizados que todos os anos acordam para celebrar Natal.

Para você que acompanha esse blog - Feliz Vida no Natal do Menino-Deus.

José Soares de Jesus

http://jose.soaresdejesus.zip.net/index.html

Nenhum comentário: