terça-feira, 26 de março de 2013

O ESTADO MÍNIMO NA DEMOCRACIA CULTURAL OLIGÁRQUICA



Por Carlos Henrique Machado Freitas
O artigo de Vladimir Safatle "A luta de classes na cultura" para tentar fazer a emenda do soneto de Mino Carta "O vazio da Cultura" dá dimensão de como é difícil falar em cultura no Brasil sem beijar as mãos das oligarquias.
O debate estético de Vladimir Safatle é tão estático quanto o de Hermano Viana "O Abacaxi da Cultura", mesmo que a conclusão de seus conceitos apontem caminhos aparentemente antagônicos. Se Safatle defende a "alta cultura" contra o que ele classifica de "caráter profundamente reacionário e conservador de várias produções da dita espontaneidade da "cultura popular", Vianna tenta fazer o caminho de volta guardando o lugar quentinho para as novas formas de exploração das corporações midiáticas a um filão de mercado com a lógica do modernismo da indústria cultural.
Na cultura do Abadá e na cultura do fraque, os cartolas são os mesmos. Fundação Roberto Marinho que o diga! o Império fareja negócios e não deixa que ninguém construa caminhos sem pagar os devidos beija-mãos a seus interesses, que são muitos, mas sobretudo políticos, pois é no Estado Mínimo neoliberal que se afortunaram.
Entre os mitos e os ritos da cultura controlada pelas grandes corporações, vamos encontrar espremido e cada vez mais espremido o MinC. Agora mesmo já não bastasse a Lei Rouanet, o MinC lança sua plataforma da Economia Criativa com a "Rede Brasileira dos Criativas Birôs" e na mesma linha, em parceria com o Instituto Itaú Cultural, o "Programa de Capacitação em Gestão de Projetos e Empreendimentos Criativos" para seguir o que eles classificam como estratégia de inovação dos negócios da cultura. Daí o MinC seguirá o mesmo padrão das conferências do Itaú Insights para caminhar no projeto de lojas de departamentos moldadas à economia criativa.
O pensamento de superar desafios e inovar atitudes de artistas/empresas, de produtores de negócios culturais é o exemplo de como as bordas desse cristal chamado cultura brasileira estão no campo institucional inspiradas no radar transnacional do player global.
O que talvez não seja perceptível ao "pensamento inovador" e suas lógicas de consultoria é que, como fundadores desse "empreendedorismo inovador", abdicam da condição de seres humanos em nome do intra-empreendedorismo do mundo corporativo para propor um sentimento de validade eletrônica que talvez demore uma vida dentro da comissão de valores, mas que, diante da realidade cotidiana do povo brasileiro é apenas mais um satélite que será colocado em órbita pelas velhas botas das oligarquias brasileiras.
É irônico um projeto do Ministério da Cultura do Brasil financiar um coletivo catarse em que se movimentará grandes dutos de recursos públicos instalados dentro dos túneis de quem já controla as leis de incentivo à cultura no Brasil.
Teremos então um MinC insight que provavelmente vislumbra a atração de investimentos mundiais ou simplesmente pretende ressaltar os eventos tão intrigantes quanto as lógicas da FIFA. Seja como for, estamos diante de uma experiência viva em que a abordagem oficial vai ganhando significados e símbolos cada vez mais parecidos com os bonecos animatronics do natal Itaú Personalité.
A ideia de proporcionar encantamento a partir do marketing de negócios, criar agências de eficiência criativa, numa "performance de ideias sustentáveis e suas grandes novidades" não é outra coisa que não o que apontou Milton Santos… "A tirania da informação e do dinheiro é apresentada como os pilares de uma situação em que o progresso técnico é aproveitado por um pequeno número de atores globais em seu benefício exclusivo. O resultado é o aprofundamento da competitividade, a produção de novos totalitarismos, a confusão dos espíritos e o empobrecimento crescente das massas, enquanto o Estado se torna incapaz de regular a vida coletiva".
No entanto, não precisamos vislumbrar o futuro para enxergar o efeito multiplicador desse desastre. A história profissional da Lei Rouanet contribui, e muito para, naquelas entrelinhas, lermos o que está sendo inaugurado pelo MinC, tentando usar as novas tecnologias e as redes sociais como conexões entre nossos neurônios e o cérebro que funciona na cabeça das grandes corporações. Daí, quem sabe, tanto a cultura de excelência de Safatle quanto a cultura de auditório do "Esquenta" de Hermano Vianna, se encontrem no espaço Itaú, no auditório Ibirapuera com a aprovação de um público "diferenciado" que reflete o desenvolvimento das oligarquias no país.
As fortalezas corporativas, institutos e fundações, provavelmente se inspirarão nesses exemplos, mesmo que tudo isso esteja completamente fora do foco social, político e cultural de nossas realidades. O que parece mesmo importar hoje ao MinC é a manutenção de um contrato organizado com a agenda conservadora para satisfazer o grande capital.
Aqui fora a história social de nossa cultura, não tenho dúvidas, seguirá com suas artes criativas sendo eco da sociedade com a superioridade inspiradora que sempre criou padrões intelectuais de altíssima relevância para a vida nacional que, constantemente, impôs o sentimento do povo sobre a ortodoxia patrimonial que hoje está disponível nas páginas da nova ortografia do MinC (Ministério da Indústria e Comércio) para quem queira ser um trainee do Itaú/Unibanco para vender o exotismo artístico de sensações fortes como, o vatapá, o jacaré e a vitória-régia, como dizia Mário de Andrade… Essa coisa que coincide com a falsificação da entidade brasileira para agradar a diletante opinião do europeu. Certamente, Safatle e Vianna aprovarão.

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