quinta-feira, 18 de abril de 2013

Francisco de Roma e a Ecologia de Francisco de Assis


Fonte: blog do Leonardo Boff, aqui

18/04/2013
Não pode ser em vão que um Papa assuma o nome de Francisco. Além de ser referência de um outro modo de ser Igreja, mais próxima à gruta de Belém do que aos palácios de Jerusalém, Francisco de Assis suscita uma temática de extrema urgência nos dias atuais: a questão da salvaguarda da vitalidade do planeta Terra e a garantia do futuro de nossa civilização. Para esse propósito é insuficiente apenas a ecologia exterior. Precisamos amalgamá-la coma ecologia interior. Foi o que fez de forma paradigmática São Francisco de Assis.
Ecologia exterior é aquela sintonia fina que elaboramos em consonância com os ritmos da natureza e com o processo cósmico que se realiza na dialética de ordem-desordem-interação-nova-ordem. Esta ecologia garante a perpetuidade do processo evolucionário que inclui a Terra e a biodiversidade. Mas, no nível humano, ela somente ocorre, se houver uma contrapartida nossa que se deriva da ecologia interior. Por ela, o universo e seus seres estão dentro de nós na forma de símbolos que falam, de arquétipos de nos orientam e ide imagens que habitam nossa interioridade: materiais com os quais devemos continuamente dialogar e  integrar. Se há violência  na ecologia exterior é sinal que há turbulência em nossa ecologia interior e vice-versa. Não sabemos harmonizar as ecologias enunciadas por F. Guatarri e por mm: a ambiental, a social, a mental e a integral.

Em seu Cântico do Irmão Sol São Francisco revela a convivência destas duas ecologias. Seu extraordinário feito espiritual foi o de reconciliar o universo com Deus, o céu com a Terra e a vida com a morte. Para entender esta experiência de totalidade precisa-se ler o texto para além de sua letra e descer ao nível simbólico onde os elementos cantados vem impregnados de emoção e de significação simbólica. O contexto existencial é significativo: Francisco está muito doente e quase cego, cuidado por Santa Clara na capelinha de São Damião onde ela vivia com suas irmãs. De repente, em plena noite, teve uma espécie de exaltação do espírito, como se estivesse já no Reino dos céus. Irradiante de alegria, levanta-se, compõe um hino a todas as criaturas, cantando-o com seus confrades. Celebra o grande esponsal entre o “senhor irmão Sol” e a “irmã senhora Terra”. Deste esponsal nascem todos os seres, ordenados em pares, masculino e feminino, que, segundo C.G.Jung constituem o arquétipo mais universal da totalidade psíquica: sol-lua, vento-água, fogo-terra, totalidade esta alcançada em sua caminha espiritual.

O hino contem ainda duas estrofes, acrescentadas pelo Poverello. Nelas não é mais o cosmos material que é cantado mas o cosmos humano que também busca reconciliação: a do bispo de Assis com o prefeito. Por fim se reconcilia com a irmã morte, o complexo mais difícil de ser integrado pelo aparato psíquico humano. O ser humano se reconcilia com outro ser humano. A vida abraça a morte como irmã, portadora da eternidade.

A ecologia interior integrada com a ecologia exterior encontra em Francisco um intérprete privilegiado. Ele é como uma finíssima corda do universo na qual a nota musical mais sutil ressoa e se faz ouvir.

A nossa cultura é devedora do pai de São Francisco, Pedro Bernardone, rico comerciante de tecidos, buscando riqueza e fausto. Confessa Arnold Toynbee, o grande historiador inglês: “Francisco, o maior dos homens que viveram no Ocidente, deve ser imitado por todos nós, pois sua atitude é a única que pode salvar a Terra”(Jornal ABC, Madrid, 19/12/1972,10).

Qual o nosso desiderato? Que Francisco de Roma se coloque sob a inspiração de Francisco de Assis, transforme-se, por sua humildade, pobreza e jovialidade, num amante da Mãe Terra e num defensor de todo tipo de vida, especialmente, daquela mais ameaçada que é a dos pobres. E que suscite essa consciência na humanidade. Nele estão presentes todos os carismas que o podem fazer um farol de referencia ecológica e humanitária  para todo o mundo.



Leonardo Boff é autor de Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Sextante, Rio 2004.

Irnão Sol, Irmão Lua  

Doce é Sentir

Doce é sentir em meu coração
Humildemente vai nascendo o amor.
Doce é saber não estou sozinha
Sou uma parte de uma imensa vida.
Que generosa reluz em torno a mim
Imenso dom do seu amor sem fim.
O céu nos deste e as estrelas claras
Nosso irmão sol, nossa irmã a lua
Nossa mãe terra com frutos, campos,
Flores, Fogo e o vento, o ar e a água pura
Fonte de vida de tua criatura.
Imenso dom do seu amor sem fim
Imenso dom do seu amor sem fim.

 AQUI

 CANTA FRANCISCO 
Pe. Antonio Passos
Nos olhos dos pobres, no rosto do mundo
Eu vejo Francisco perdido de amor
É índio, operário, é negro, é latino
Jovem, mulher, lavrador e menor

Há um tempo só de paixão, grito e ternura
Clamando as mudanças que o povo espera
Justiça aos pequenos, ordem do evangelho
Reconstrói a igreja na paixão do pobre.
Há crianças nuas nesta paz armada
Há Francisco povo sendo perseguido
Há jovens marcados sem teto nem sonhos
Há um continente sendo oprimido
Com as mãos vazias solidariedade
Com os que não temem perder nada mais
Defendem com a morte a dignidade
Com a teimosia que constrói a paz.

Refrão: Canta Francisco, com a voz dos pobres
Tudo que atreveste a mudar
Canta novo sonho, sonho de esperança
Que a liberdade vai chegar
Canta Francisco, com a voz dos pobres
Tudo o que atreveste a mudar
Canta novo sonho, sonho de menino
Novo céu e terra vai chegar.

Há Claras, Franciscos marginalizados
Cantando da América a libertação
Meninos sem lares são irmãos do mundo
Pela paz na terra sofrem parto e cruz.
Francisco imagem de um Deus feito pobre
Denúncia esperança profecia e canta
Vence com coragem o império da morte
De braços com a vida em missão na história
Francisco menino e homem das dores
Reconstrói a igreja pelo mundo afora
Na fraternidade que traz a justiça
Na revolução que anuncia a aurora

Refrão: Canta Francisco, com a voz dos pobres
Tudo que atreveste a mudar
Canta novo sonho, sonho de esperança
Que a liberdade vai chegar
Canta Francisco, com a voz dos pobres
Tudo o que atreveste a mudar
Canta novo sonho, sonho de menino
Novo céu e terra vai chegar.

Ouça/Assista   AQUI

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