Rio -  Falta de iniciativa pública deixou de ser empecilho para quem quer produzir e ter acesso à cultura. Cada vez mais, movimentos independentes surgem pelas ruas das zonas Norte, Sul e Baixada, e ganham visibilidade graças às redes sociais. Festivais de música, dança na calçada, exposições de arte e mostras de cinema são algumas das produções artísticas. É o povo fazendo uso lúdico do espaço público, tantas vezes abandonado.
Um bom exemplo é a Roda Cultural do Méier, que, desde agosto do ano passado, reúne cerca de 150 pessoas na Praça do Méier toda quarta-feira. Embalados ao som do hip hop, quem vai lá ainda pode ouvir batalha de MC’s e conhecer novos artistas.
Roda Cultural do Méier reúne cerca de 150 pessoas na Praça do Méier. Quem vai lá ainda pode ouvir batalha de MC’s e conhecer novos artistas | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Roda Cultural do Méier reúne cerca de 150 pessoas na Praça do Méier. Quem vai lá ainda pode ouvir batalha de MC’s e conhecer novos artistas | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
“A iluminação era precária, tinha mendigo, e o parquinho estava todo quebrado. Com a ‘Roda’, conseguimos a revitalização da praça. Mas ainda precisa melhorar”, conta o produtor musical Fábio Broa, de 27 anos, um dos organizadores do evento que, no verão, já alcançou um público de quase 400 pessoas. “O artista independente precisa de um espaço e aqui ele encontra”, completa o produtor cultural Allan Marola, outro representante do movimento.
Desde novembro, a estudante Nathália Rodrigues, 18, marca presença. “Encontro os amigos, ouço música, curto os shows. Não preciso ir para a Zona Sul”, avalia Nathália, moradora do bairro.
Em Bangu, na Zona Oeste, são as calçadas que ganham charme nas noites de sexta-feira em abril, quando dançarinos de várias modalidades, que vão do jazz ao street dance, se apresentam gratuitamente para um público de quase 600 pessoas por noite. “O projeto Dança na Calçada já está na 3° edição e aproxima da arte o público que está distante do teatro, ou não tem como pagar caro”, avalia a organizadora Marta Barros. “Já pedimos patrocino da prefeitura para melhorar a estrutura, mas não conseguimos nada. Por sorte, nunca choveu”.
Divulgação em redes sociais
Para a socióloga e professora da Uerj, Cíntia SanMartin, a produção cultural está se descentralizando. “A Zona Sul sempre concentrou teatros e outros espaços. O conceito de centro e periferia, em termos de cultura, está se dissipando”, acredita. Ela destaca que a tendência é que o poder público comece a investir a partir da iniciativa desses ativistas culturais. “Sempre houve produção cultural fora da Zona Sul de alta qualidade. Acontece que as redes sociais ajudaram a jogar luz para esses movimentos, que não dependem mais da grande mídia”, conclui.
CineClube em Caxias e arte na Tijuca
Com 11 anos de existência,o CineClube Mate com Angu faz mostra de cinema independente em Caxias. As atividades vão desde oficinas, exposições, debates e feiras, além da produção de curtas-metragens. “Criamos um espaço arejado para expressar ideias”, define Igor Barradas, um dos fundadores do Cine, que entrega troféu Angu de Ouro para curtas que vencem a votação popular anual.
Outra experiência de sucesso é o grupo Norte Comum, que gere o projeto Geringonça em parceria com o Sesc Tijuca, com oficinas, shows, exposições, debates. “Há uma efervescência de artistas independentes. É uma força de transformação inimaginável”, analisa Pablo Meijueiro, um dos articuladores do movimento.