segunda-feira, 1 de abril de 2013

Bendito o bêbado que defendeu Jesus durante encenação da Paixão de Cristo.


Bendito o bêbado que defendeu Jesus durante encenação da Paixão de Cristo. O bêbado subiu no palco e enfrentou os acusadores de Jesus. E, com firmeza, defendeu Jesus. O bêbado foi  retirado do palco, mas, no meio do povo, continuou defendendo Jesus. Que beleza! Feliz quem ouve a sabedoria de muitos bêbados! 
Abraço terno. Frei Gilvander Moreira 
 
Comentário
E se as encenações da Paixão de Cristo não fossem tão quadradas? E se buscassem atualizar o drama e o  sofrimento de Cristo, relacionando com o drama e o sofrimento de tantas mulheres e homens mundo a fora? Esta forma de intervenção espontânea do homem bebum me lembrou o teatro do oprimido. Muito feliz por ter tido acesso a ele, pois há tempos não assisto a encenação da Paixão de Cristo, por considerá-las repetitivas, claro que devem se reportar ao passado, mas gosto muito de releituras e da atualização da história para nossas realidades e tempo presente.
Zezito de Oliveira
Como neste exemplo:  “Tributo a Paixão Mineira”; um espetáculo teatral estruturado para apresentar as culturas populares e a sua devoção e espiritualidade. A sintonia entre as culturas populares, o lúdico das cantigas de roda e a Paixão de Jesus proporcionam uma curva de emoções entre o delicado, sereno e os conflitos do inferno, de Herodes e dos Romanos. Essa curva de emoções propicia uma dramaturgia de grande valor reflexivo e encantador. Assim chegamos aos nossos 13 anos de grupo, em uma maturidade inacreditável. E após um longo processo de estudos referente às Culturas Populares, sua religiosidade de forma enrustida a sua teatralidade explicita, a “licença poética” do autor abriu seus os caminhos. Como de costume esculpir artisticamente num processo de “artesania” dramatúrgica, chegou-se a uma imagem digital, que desperta o canal sensorial do nosso Diretor teatral.
 http://afolharegional.com/portal/?url=incio/regiao/atributo-a-paixo-mineiraa-um-espetculo-teatral-ser-apresentando-em-alpinpolis-
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Essa criança estava assistindo uma Encenaçao da Paixao de Cristo,entrou no cenario pra ajudar o ator que representava Jesus Cristo! Que linda imagem! Patricia Paula


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Jesus: a morte de um preso político e não um “sacrifício religioso” ou “expiatório”. Mauro Lopes e José Maria Castillo

Jesus: a morte de um preso político e não um “sacrifício religioso” ou “expiatório”

A cena é descrita em detalhes no Evangelho de João (Jo 18,1-19,42) e antecipada, na Primeira Leitura, pelo último Canto do Servo Sofredor ( o 4º), no qual o profeta Isaías antecipava, mais de 500 anos antes, que um Servo seria preso e torturado: “tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos”. O profeta anunciava que ele seria desprezado,  esmagado e que, em sua entrega amorosa, radical e desafiadora do sistema, iria mostrar a nós, “ovelhas desgarradas” e acovardadas, o caminho da resistência e da justiça (Is 52,13 – 53,12).
Há uma maneira de encarar a caminhada decisiva de Jesus, resultado de suas escolhas ao longo da vida, com um pietismo adocicado-azedado e carregado de um falso moralismo, como se sua morte fosse culpa individual de cada pessoa simplesmente por termos nascido. Seria um “sacrifício religioso” expiatório para nos absolver, num ciclo que se torna punição eterna, sem absolvição, pois aprisiona os homens e mulheres a uma culpa sempre renovada, nunca purgada, sempre a necessitar o perdão do padre, do bispo da Igreja.
É um engodo. Não houve sacrifício religioso algum. Jesus foi morto como um preso político, porque desafiou o poder político-religioso em Israel e o exército de ocupação romano, e propôs a seu povo uma vida de fraternidade, liberdade, superação e em amor responsável e acolhedor; uma vida de partilha e não de acumulação, de solidariedade e não de exploração; de amizade e não de competição.
Morreu como um subversivo. O artigo do teólogo espanhol José Maria Castillo é breve e contundente, como a vida do Mestre.  Ele foi jesuíta por muito tempo, deixou a Companhia de Jesus e tornou-se um teólogo de referência global –não é à toa que foi perseguido anos a fio pela Congregação para a Doutrina da Fé, com vários monitums [advertências] contra ele. Leia o artigo a seguir ou na versão original, publicada em Religion Digital há poucos dias:
“Uma das coisas que ficam mais claras, nos relatos da paixão do Senhor, que a Igreja nos recorda nestes dias da Semana Santa é o medo que o Evangelho desperta. Sim, a vida de Jesus nos dá medo. Porque, ao fim, o que não deixa margem a dúvida é que sua forma de viver –se é que os evangelhos são a verdadeira recordação do que aconteceu- levou Jesus a terminar seus dias tendo que aceitar o destino mais repugnante que uma sociedade pode determinar: o destino de um delinquente executado (G. Theissen).
A morte de Jesus não foi um sacrifício religioso. Ao contrário, pode-se assegurar que a morte de Jesus, tal como relatada nos evangelhos, nada teve a ver com o que, naquela cultura, se podia entender como um sacrifício sagrado ou de fundo religioso. Todo sacrifício religioso naquele tempo devia cumprir duas condições: teria que acontecer no templo (lugar do sagrado) e deveria seguir as prescrições de um ritual religioso. Nenhuma delas se deu na morte de Jesus.
Mais ainda: Jesus foi crucificado não entre dois ladrões, mas entre dois lestai, uma palavra grega que se utilizava para designar não apenas bandidos (Mc 11,17), mas igualmente a rebeldes políticos (Mc 15,27), como indicou o historiador Flavio Josefo (H.W.Kuhn; X.Alegre). Por isso compreende-se que, em sua hora final e decisiva, Jesus se viu abandonado e traído por todos: o povo, os discípulos, os apóstolos… A paixão e morte de Jesus tiveram de elemento religioso seus sentimentos, do próprio Jesus: e sabemos que seu sentimento mais forte foi a consciência de se ver abandonado inclusive por Deus (Mt 27,46Mc 15,34). A vida de Jesus acabou assim: sozinho, desamparado, abandonado.
O que isto tudo nos diz? A Semana Santa diz-nos, nos textos bíblicos que lemos estes dias, que Jesus veio para por em questão a realidade em que vivemos. A realidade violenta, cruel, na qual se impõe a lei do mais forte frente à lei de todos os fracos.
Sabemos que Paulo de Tarso interpretou o relato mítico do pecado de Adão como origem e explicação da morte de Jesus, para nos redimir de nossos pecados (Rm 5,12-14). Os pregadores lançam mão desta interpretação para concentrar nossa atenção na salvação do céu. Isso é bom, mas carrega o perigo de desviar nossa atenção da trágica realidade que estamos vivendo. A realidade  da violência que sofrem os zé-ninguém, a corrupção dos que mandam e, sobretudo, o silêncio daqueles que sabem disso tudo mas ficam quietos para não perder seu poder, suas dignidades e seus privilégios.
A beleza, o fervor, a devoção de nossas liturgias sacras recorda-nos a paixão do Senhor. Porém, elas questionam a duríssima realidade que vivem milhões e milhões de seres humanos? Recordam-nos a vida de Jesus e seu fracasso final? Ou nos distraem com devoções, apegos estéticos e tradições que utilizam a memoria passionis, de Jesus apenas para cuidar de sua boa consciência? 
Imagens (arquivo web) Luis Henrique Alves Pinto 
             Bernardo Ramonfaur

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