quinta-feira, 16 de maio de 2013

Saúde mental e arte: iniciativas ajudam no tratamento de pacientes

Luanda Lima - Portal EBC 15.05.2013 - 19h40 | Atualizado em 15.05.2013 - 21h01
 
Com o slogan “A rádio que é louca por você”, a Rádio Revolução foi criada em 1995 no Centro Comunitário do Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio de Janeiro. Se o projeto surpreendeu os pacientes que frequentavam o Centro ao levar música aos corredores de um espaço no qual a angústia predominava, logo viria uma curiosidade ainda maior, quando souberam que também poderiam participar da equipe da rádio.

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“As pessoas foram aparecendo cada vez mais, porque era uma novidade ligar o rádio na enfermaria e ouvir as músicas que os pacientes haviam pedido. A gente dava a essas pessoas um canal de expressão”, relembra o psicólogo Annibal Coelho de Amorim. O médico foi um dos fundadores da emissora, que hoje é uma rádio virtual, e relembra com bom humor o codinome que usava no ar: Doc Crazy. A rádio é uma das iniciativas que buscam humanizar a relação com quem sofre de transtornos psíquicos e auxiliar na ressocialização desses indivíduos.
“Pessoas que apresentavam internações recorrentes ficavam cada vez mais fora da enfermaria devido à sua ‘militância’ na rádio, tomavam menos medicação. Elas assumiram um protagonismo cidadão de que talvez nem elas tivessem ideia”, conta Amorim.
O entusiasmo para buscar um caminho alternativo no contato com usuários de saúde mental também moveu o médico e artista plástico Lula Wanderley. Após um convite da psiquiatra Nise da Silveira, ele a auxiliou na reformulação do Museu de Imagens do Inconsciente, também parte do Instituto Municipal Nise da Silveira. “Eu tinha a impressão de quem sofre tem um corte de comunicação com o mundo, então minha função era criar formas de comunicação com a pessoa. Nise gostou muito dessas ideias, me acolheu e disse para usar minha sensibilidade como instrumento de trabalho”, recorda.
Conheça o Museu de Imagens do Inconsciente e o legado de Nise da Silveira  AQUI
“A Psiquiatria teve que se voltar à questão da sociabilização, porque quem fica fora do corre-corre do cotidiano é massacrado. É natural que a saúde mental entre nesse contexto de incorporar o sujeito à sociedade e a arte é uma intermediadora maravilhosa de relações sociais”, afirma Lula Wanderley. No fim dos anos 1980, o artista plástico fundou no Instituto Nise da Silveira o Espaço Aberto ao Tempo, com o objetivo de trabalhar questões existenciais do corpo por meio da arte.
Lula Wanderley diz ter recebido grande influência da também artista plástica Lygia Clark. “Lygia criou o que chamou de ‘objeto relacional’, que tem uma linguagem exclusiva para o corpo e possui uma sensorialidade tão particular que toca a alma do indivíduo. Em pessoas com vivências psicóticas muito graves, essa relação com o objeto fazia com que algumas criassem uma nova vivência do corpo, que era ressignificado, e tivessem chance de melhora”.

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