domingo, 30 de junho de 2013

Cenas do Brasil debate programa Mais Cultura nas Escolas

CENAS DO BRASIL - 28.06.13: A cultura brasileira reúne diversas matrizes: capoeira, quadrilhas, Bumba Meu Boi, fandango, ciranda, samba e tantas outras mais. São manifestações que representam todas as regiões do país e que podem ser, desde cedo, incluídas e repercutidas em instituições de educação. O programa Mais Cultura nas Escolas é o tema do Cenas do Brasil desta semana, e, para comentar o assunto recebemos o secretário substituto de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Américo Córdula, e o coordenador do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, localizado em Brasília, Chico Simões.

 

 

"Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas" - Manuel Castells

Fonte: Revista Isto É
Maior especialista contemporâneo em movimentos sociais nascidos na internet, o sociólogo espanhol diz que a condução da crise no Brasil mostra que há esperanças de se reconectar instituições e cidadãos
por Daniela Mendes

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PROTESTOS NA AMÉRICA LATINA
“Há um movimento estudantil forte no Chile, embriões
surgindo na Colômbia, no México e no Uruguai”, diz Castells
O sociólogo espanhol Manuel Castells, 68 anos, estava no Brasil participando de uma série de conferências quando os protestos pela redução das tarifas de ônibus começaram, ainda tímidos, em São Paulo. Um dos maiores especialistas da atualidade em movimentos sociais na era da internet, nem ele podia imaginar que o País todo seria tomado por uma onda de passeatas que se transformaria na mais importante manifestação política da sociedade brasileira em 20 anos. “Se querem mudanças, não bastam somente as críticas na internet. É preciso tornar-se visível, desafiar a ordem estabelecida e forçar um diálogo”, afirma o sociólogo. Castells analisou outros movimentos semelhantes, como a Primavera Árabe, o Occupy, nos Estados Unidos, os Indignados, na Espanha, e agora também acompanha a defesa da Praça Taksim, na Turquia. Com extenso e respeitado trabalho sobre o papel das novas tecnologias de informação e comunicação, o sociólogo diz que a grande força desses movimentos é a ausência de líderes e enxerga um esgotamento do modelo atual de representatividade. Autor de 23 livros, ele lança em breve “Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na Era da Internet” (Zahar Editora). Castells foi professor da Universiade de Berkeley, na Califórnia, por 24 anos. Atualmente, vive em Barcelona, na Espanha, de onde falou à ISTOÉ por e-mail, e é professor da Universidade Aberta da Catalunha e da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
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“As críticas de José Serra (às iniciativas de Dilma) são típicas da
incompreensão dos políticos sobre o direito das pessoas de decidir”
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“A grande força desses movimentos é que eles
são espontâneos, livres, uma celebração da liberdade.
O Occupy deixou novos valores para os americanos”
Fotos: Marcelo Justo/Folhapress; EPITáCIO PESSOA/AE; Stan HONDA/afp
Istoé - O sr. estava no Brasil quando ocorreram os primeiros protestos em São Paulo. Podia imaginar que eles tomariam essa proporção?

Manuel Castells -
Ninguém podia. Mas o que eu imaginava, e pesquisei durante vários anos, é que a crise de legitimidade política e a capacidade de se comunicar através da internet e de dispositivos móveis levam à possibilidade de que surjam movimentos sociais espontâneos a qualquer momento e em qualquer lugar. Porque razões para indignação existem em todos os lugares.
Istoé - O Brasil reduziu muito a desigualdade social nos últimos anos e tem pleno emprego. Como explicar tamanho descontentamento?
Manuel Castells -
A juventude em São Paulo foi explícita: “Não é só sobre centavos, é sobre os nossos direitos.” É um grito de “basta!” contra a corrupção, arrogância, e às vezes a brutalidade dos políticos e sua polícia.
Istoé - Faz sentido continuar nas ruas se os problemas da saúde e da educação não podem ser resolvidos rapidamente, como o das passagens de ônibus?
Manuel Castells -
Em primeiro lugar, o movimento quer transporte gratuito, pois afirma que o direito à mobilidade é um direito universal. Os problemas de transporte que tornam a vida nas cidades uma desgraça são consequência da especulação imobiliária, que constrói o município irracionalmente, e de planejamento local ruim, por causa da subserviência dos prefeitos e suas equipes aos interesses do mercado imobiliário, não dos cidadãos. Além disso, por causa da mobilização, a presidenta Dilma Rousseff também está propondo novos investimentos em saúde e educação. Como leva muito tempo para obter resultados, é hora de começar rapidamente.
Istoé - A presidenta Dilma agiu corretamente ao falar na tevê à nação, convocar reuniões com governadores, prefeitos e manifestantes para propor um pacto?
Manuel Castells -
Com certeza, ela é a primeira líder mundial que presta atenção, que ouve as demandas de pessoas nas ruas. Ela mostrou que é uma verdadeira democrata, mas ela está sendo esfaqueada pelas costas por políticos tradicionais. As declarações de José Serra (o ex-governador tucano criticou as iniciativas anunciadas pela presidenta) são típicas de falta de prestação de contas dos políticos e da incompreensão deles sobre o direito das pessoas de decidir. Os cargos políticos não são de propriedade de políticos. Eles são pagos pelos cidadãos que os elegem. E os cidadãos vão se lembrar de quem disse o quê nesta crise quando a eleição chegar.
Istoé - Como comparar o movimento brasileiro com os que ocorreram no resto do mundo?
Manuel Castells -
Houve milhões de pessoas protestando dessa forma durante semanas e meses em países de todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de mil cidades foram ocupadas entre setembro de 2011 e março de 2012. A diferença no Brasil é que uma presidenta democrática como Dilma Rousseff e um punhado de políticos verdadeiramente democráticos, como Marina Silva, estão aceitando o direito dos cidadãos de se expressar fora dos canais burocráticos controlados. Esse é o verdadeiro significado do movimento brasileiro: ele mostra que ainda há esperança de se reconectar instituições e cidadãos, se houver boa vontade de ambos os lados.
Istoé - O que é determinante para o sucesso desses movimentos convocados pela internet?
Manuel Castells -
Que as demandas ressoem para um grande número de pessoas, que não haja políticos envolvidos e que não haja líderes manipulando. Pessoas que se sentem fortes apoiam umas às outras como redes de indivíduos, não como massas que seguem qualquer bandeira. Cada um é seu próprio movimento. A brutalidade policial também ajuda a espalhar o movimento através de imagens na internet difundidas por telefones celulares.
Istoé - Por que tantos protestos acabam em saques e depredações? Como evitar que marginais se aproveitem do movimento?
Manuel Castells -
Há violência e vandalismo na sociedade. É impossível preveni-los, embora os movimentos em toda parte tentem controlá-los porque eles sabem que a violência é a força mais destrutiva de um movimento social. Às vezes, em alguns países, provocadores apoiados pela polícia criam a violência para deslegitimar o movimento.
Istoé - Como a polícia deve agir?
Manuel Castells -
Intervir de forma seletiva, com cuidado, profissionalmente, apenas contra os provocadores e os grupos violentos. Nunca, nunca disparar armas letais, e se conter para não bater indiscriminadamente em manifestantes pacíficos. A polícia é uma das razões pelas quais as pessoas protestam.
Istoé - A ausência de líderes enfraquece o movimento?
Manuel Castells -
Pelo contrário, este é o vigor do movimento. Todo mundo é o seu próprio líder.
Istoé - Mas isso não inviabiliza a negociação com a elite política?
Manuel Castells -
Não, a prova disso é que a presidenta Dilma Rousseff se reuniu com alguns representantes do movimento.
Istoé - Qual é a grande força e a grande fraqueza desses movimentos?
Manuel Castells -
A grande força é que eles são espontâneos, livres, festivos, é uma celebração da liberdade. A fraqueza não é deles, a fraqueza são a estupidez e a arrogância da classe política que é insensível às demandas autônomas de cidadãos.
Istoé - No Brasil, partidos políticos foram banidos das manifestações e há quem enxergue nisso o perigo de um golpe. Faz sentido essa preocupação?
Manuel Castells -
Não há perigo de um golpe de Estado. Os corruptos e antidemocráticos já estão no poder: eles são a classe política.
Istoé - Como resolver a crise de representatividade da classe política?
Manuel Castells -
Com reforma política, com uma Assembleia Constituinte e um referendo. A presidenta Dilma Rousseff está absolutamente certa, mas, nesse sentido, ela será destruída por sua própria base.
Istoé - Essas manifestações articuladas através das redes sociais demandam uma nova forma de participação dos cidadãos nos processos de decisão do Estado? Qual?
Manuel Castells -
Sim, esta é a nova forma de participação política emergente em toda parte. Analisei este mundo em meu livro mais recente.
Istoé - O que há em comum entre os movimentos sociais contemporâneos?
Manuel Castells -
Redes na internet, presença no espaço urbano, ausência de liderança, autonomia, ausência de temor, além de abrangência de toda a sociedade e não apenas um grupo. Em grande parte os movimentos são liderados pela juventude e estão à procura de uma nova democracia.
Istoé - O movimento Occupy, nos EUA, foi derrotado pela chegada do inverno. Que legado deixou?
Manuel Castells -
Deixou novos valores, uma nova consciência para a maioria dos americanos.
Istoé - Os Indignados espanhóis conseguiram alguma vitória?
Manuel Castells -
Muitas vitórias, especialmente em matéria de direito de hipoteca e despejos de habitação e uma nova compreensão completa da democracia na maioria da população.
Istoé - Que paralelos o sr. vê entre o movimento turco e o brasileiro?
Manuel Castells -
São muito similares. São igualmente poderosos, mas a Turquia tem um primeiro-ministro fundamentalista islâmico semifascista e o Brasil, uma presidenta verdadeiramente democrática. Isso faz toda a diferença.
Istoé - Acredita que essa onda de protestos se espalhará para outros países da América Latina?
Manuel Castells -
Há um movimento estudantil forte no Chile, e embriões surgindo na Colômbia, no México e no Uruguai.
Istoé - Países que controlam a internet, como a China, estão livres dessas manifestações?
Manuel Castells -
Não, isso é um erro da imprensa ocidental. Há muitas manifestações na China, também organizadas na internet, como a da cidade de Guangzhou (no sul do país), em janeiro passado, pela liberdade de imprensa (o editorial de um jornal foi censurado e isso motivou as primeiras manifestações pela liberdade de expressão na China em décadas. Pelo menos 12 pessoas foram detidas, acusadas de subversão).
Istoé - Como o sr. vê o futuro?
Manuel Castells -
Eu não gosto de falar sobre o futuro, mas acredito que ele será mais brilhante agora porque as sociedades estão despertando através desses movimentos sociais em rede.


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William Blum, que viu os golpes por dentro: “Fiquem de olho no dinheiro”

Fonte: Viomundo - publicado em 30 de junho de 2013 às 13:18

Dia de fama para Blum no Washington Post, em 2006
por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo
Olho no dinheiro. Em síntese, esse é o conselho de quem conhece de perto décadas de truques e artimanhas usados pela CIA e por outras organizações do governo estadunidense para virar o jogo político alheio.
William Blum, mais conhecido como Bill, é norte-americano e anti-imperialista convicto, graças à guerra do Vietnã.
Foi quando ele se tornou funcionário do Departamento de Estado, durante a guerra, que teve um choque de consciência. O que já era uma convicção se tornou conhecimento ainda mais profundo quando acompanhou, no Chile, o golpe de estado orquestrado pela CIA contra o governo de Salvador Allende, em 1973.
Por enquanto, não há qualquer indício de ação externa nas manifestações brasileiras, embora — estranhamente — brasileiros tenham tomado a iniciativa de denunciar o Brasil, em vídeo, no Exterior.
Porém, momentos de instabilidade política — como os enfrentados agora pelos governos da Turquia e do Brasil — prenunciam mudanças e atores externos muitos vezes se aproveitam da conjuntura para enfiar sua colher. Por isso, fomos ouvir Blum.
Escritor, historiador e crítico contumaz da política externa dos Estados Unidos, Bill Blum não usa meias palavras para descrever a atuação da superpotência.
No livro Killing Hope: U.S. Military and CIA Intervention since World War II, ele faz um relato detalhado da intervenção estadunidense em vários países. Blum dedica um capítulo a cada nação, começando com a China. Depois de percorrer todos os continentes, ele termina, no capítulo 55, com o Haiti. Passa, claro, pelo golpe militar no Brasil e pelos similares na vizinhança.
Blum se encaixa na longa lista de “dissidentes” do império, que inclui do ex-agente da CIA Philip Agee ao soldado Bradley Manning e, mais recentemente, o ex-funcionário terceirizado da CIA Edward Snowden, que vazou dados sobre os programas de espionagem em massa do governo de Barack Obama.
Por conta de ter denunciado o poder, Blum vive uma espécie de “exílio branco”: seus livros nunca são resenhados e suas ideias nunca são reproduzidas na mídia local. A não ser em circunstâncias extraordinárias: em 2006, num audio tape, Osama bin Laden citou um dos livros de Blum, Rogue State, e o autor foi parar na capa do Washington Post.
No trecho do livro mencionado por Osama, Blum descreve o que faria para acabar com os ataques terroristas se fosse eleito presidente dos Estados Unidos:
“Primeiro eu pediria desculpas — publica e sinceramente — a todas as viúvas e órfãos, os empobrecidos e torturados e todas as milhões de vítimas do imperialismo norte-americano. Depois eu anunciaria que todas as intervenções globais dos Estados Unidos — inclusive os terríveis bombardeios — teriam fim. E informaria Israel que o país deixaria de ser tratado como um estado da União, mas — estranhamente — como um país estrangeiro. Depois eu reduziria o orçamento militar em pelo menos 90% e usaria o dinheiro para pagar reparações às vítimas e reconstruir os danos das invasões e bombardeios norte-americanos. O dinheiro seria suficiente. Sabe qual é o orçamento militar de um ano dos Estados Unidos? É mais que 20 mil dólares por hora para cada hora desde que Jesus Cristo nasceu. Isso é o que faria em meus primeiros três dias na Casa Branca. No quarto dia, eu seria assassinado”.
Aos 70 anos de idade, Blum continua muito ativo. Agora, toca o site www.williamblum.org.
Na entrevista, ele disse que não sabe se organizações norte-americanas (National Endowment for Democracy, Freedom House e semelhantes) tiveram algum contato com manifestantes no Brasil. Mas acha importante que os brasileiros fiquem atentos. Ao se depararem com um grupo, um site, uma organização nova, tentem descobrir quem está financiando o grupo.
Só assim, seguindo a trilha do dinheiro, é possível descobrir quem está por trás de certas palavras de ordem e campanhas.
No caso das organizações dos Estados Unidos, o objetivo segundo Blum é sempre o mesmo, há décadas. Garantir, no poder, representantes fiéis aos interesses econômicos de Washington. A ideologia pouco importa. Contanto que o mercado, e as mercadorias, continuem circulando na direção certa. “Os Estados Unidos não estão nada preocupados com liberdade e democracia e sim com a dominação do mundo. Esta é a política externa dos Estados Unidos”.
William Blum é autor de vários livros sobre a política externa dos Estados Unidos e suas consequências. Antenado nas movimentações e protestos em diferentes países do mundo, ele nos deu a seguinte entrevista:
Viomundo – Sobre os protestos no Brasil e na Turquia, o senhor vê alguma dessas organizações – National Endowment for Democracy (NED), United States Agency for International Development (USAID) ou Freedom House – tentando participar, direcionar o movimento político?
BB – Não sei quão ativas essas organizações são no Brasil. Mas parto do princípio de que são porque todas elas são a mesma coisa. Todas seguem o exemplo da National Endowment for Democracy, que foi criado claramente para ser uma fachada da CIA. E esse é o papel que vem desempenhando nos últimos 25 anos, mais ou menos. Estão no mundo inteiro. E têm vários braços, como o National Democratic Institute e o International Republic Institute, que são todos parte do NED, criado nos anos 80 para fazer, abertamente, o que a CIA estava fazendo secretamente. O NED é simplesmente uma organização de fachada para a CIA. Mas não sei quão ativos eles são hoje no Brasil. Não estou acompanhando de perto.
Viomundo – Então, me permita reformular a pergunta. Se o senhor fosse brasileiro, sabendo tudo que sabe a respeito da maneira como o império opera, em que sinais estaria de olho, agora, enquanto estão acontecendo todos esses protestos no país?
BB – Eu procuraria saber quem está pagando as contas. Quem está financiando isso ou aquilo. Que Organizações Não Governamentais estão ativas. Pode ser que surjam nomes conhecidos, ou alguns mais obscuros. Mas é preciso pesquisar para descobrir quem está financiando essas organizações mais obscuras. Pode ser que você encontre a ligação com o NED.
Viomundo – Como o senhor com certeza sabe, existe essa nova “coalizão” entre o Departamento de Estado e as grandes empresas da internet, como o Google, para desenvolver ativismo digital no mundo. Todos participando com o mesmo objetivo que, dizem, é promover a democracia.
BB – Eu escrevi sobre o homem do Google, que era do Departamento de Estado. No Google ele se encarrega, entre aspas, de promover a democracia aqui e ali. Mas para essas organizações e o NED, o que eles chamam de democracia é simplesmente capitalismo. Eles trabalham contra qualquer movimento socialista que veem, por definição, como antidemocrático. E promovem o mercado livre, que na definição deles é democracia. Então, você tem que prestar atenção no que eles dizem porque frequentemente usam os mesmos termos quando defendem a democracia.
Viomundo – Que semelhanças o senhor vê entre o que está acontecendo no Brasil e na Turquia? Com toda essa insatisfação dos jovens, que não estão vendo perspectiva? O senhor vê uma insatisfação com a vida que estamos levando hoje? Um esgotamento do modelo neoliberal?
BB – Olha, não sei qual é o grau de sofisticação dos manifestantes, desses jovens. Acho que muitos talvez tenham dificuldades de explicar contra o que são e a favor do que, apesar de terem uma boa reação intuitiva. Eles sabem que a sociedade os frustrou porque não conseguem encontrar um emprego, não lhes deu uma educação adequada pela qual possam pagar, não lhes deu um padrão de vida adequado. Eles sabem disso tudo, mas não necessariamente sabem exatamente qual é a conexão com o neoconservadorismo ou o liberalismo. Mas o instinto está lá e deveria acontecer o mesmo aqui nos Estados Unidos. Mas os jovens aqui, em sua maioria, ainda não acordaram. Com exceção do movimento Occupy que foi bom enquanto durou. Mas não chegou ao ponto de fazer demandas específicas.

Viomundo – E o movimento Occupy não conseguiu mobilizar um número grande de pessoas…
BB – O movimento Occupy foi esmagado pela polícia. Eles esmagaram um local ocupado após o outro. Prenderam mais de mil pessoas. Bateram em centenas de pessoas. Muitas tiveram sérios problemas de saúde por conta disso. Então, não é tão ruim como parece. Os jovens aqui não são tão apolíticos como se pensa. Eles têm que se recuperar do esmagamento do movimento. A polícia tomou até as bibliotecas deles e jogou os livros fora. Isso é um comportamento fascista. O governo americano hoje, na minha opinião, é um estado policial. Então, não é tão ruim como se pensa. Não sei o que vai ser preciso para que o movimento Occupy acorde novamente. Mas estou esperando por isso.

[Gostou do conteúdo? Ajude Heloisa Villela a fazer o documentário sobre a CIA e o golpe de 64]
Viomundo – O senhor acha que é por conta desse estado policial que é ainda mais difícil, aqui, brigar por mudanças?
BB – A polícia no Egito ou na Turquia não foi exatamente boazinha e gentil. A polícia, no mundo todo, é  bem ruim. Mas os jovens da Turquia, do Brasil e do Egito têm sido bem mais corajosos, continuam voltando. Foram espancados, seus acampamentos esmagados, e continuam voltando. Aqui, depois que foram esmagados, no fim de 2011, ainda não voltaram. Mas estou esperando que algo aconteça.

Viomundo – E as revoluções coloridas na Georgia, na Ucrânia e na Bielorrússia, quando a participação das organizações norte-americanas foi muito bem documentada? Elas investiram uma boa quantidade de dinheiro para unir a oposição ou garantir a vitória deste ou daquele candidato. Qual foi o resultado?
BB – Se a democracia era o grande objetivo dessas revoluções coloridas, não temos muito do que falar. A Georgia é um dos muito exemplos e não é exatamente uma sociedade muito livre. E o homem que era o líder da revolução, [Mikheil] Saakashvili, não é muito bem quisto agora. Mas eles todos aprenderam, uns com os outros. As organizações norte-americanas que se envolveram, como NED e Open Society [do especulador George Soros], levaram pessoas da Iugoslávia para ensinar os manifestantes da Georgia, por exemplo, para dividir com eles a experiência a respeito de como derrubaram o governo [de Slobodan] Milosevic [na Sérvia, em 2000]. Você pode chamar a isso de conspiração internacional, o uso de um país para derrubar o sistema de outro. E isso tudo foi coordenado pela organização que mencionei, o NED, e pelo Departamento de Estado.
Viomundo – No fim, qual foi o resultado? O que os Estados Unidos ganharam?
BB – O propósito é sempre instalar governos que serão ativos confiáveis para Washington. O objetivo, certamente, não é democracia e liberdade. O objetivo é garantir que os que estão no poder sejam bons clientes de Washington. É nisso que você tem que prestar atenção em todos esses lugares. Não examine quem está mais ou menos feliz. Olhe apenas quão subserviente aos Estados Unidos ou à OTAN é o novo governo.
Mais e mais, esses governos estão entrando na OTAN. Nesse sentido, tem sido um sucesso do ponto de vista de Washington. Os Estados Unidos cercaram a Rússia de membros da OTAN. E eles ainda não terminaram. Ainda querem colocar a Georgia e a Ucrânia na OTAN. É um processo em andamento para cercar a Rússia de amigos da OTAN. E é um dos motivos pelos quais a Rússia não entrega o Edward Snowden a Washington [Snowden é o ex-funcionário terceirizado da CIA que denunciou o programa secreto dos Estados Unidos de coleta de dados telefônicos e da internet, no mundo]. Eles têm muito motivo para estarem com raiva de Washington. Parece até que a Guerra Fria não terminou.
Viomundo – Considerando a sua história, em particular, quando deixou o Departamento de Estado, o senhor revelou os nomes e endereços de 200 funcionários da CIA, em 1969. O que teria acontecido com o senhor em 69, se as coisas estivessem como estão hoje, haja visto o que está acontecendo com Bradley Manning, Julian Assange, Edward Snowden…
BB – Não tinha pensado nisso. Consegui não ser punido. A mesma coisa hoje me deixaria com problemas graves. Não sei nem se faria a mesma coisa hoje. Talvez tivesse medo. Não sei. Mas se fizesse, sofreria sérias acusações na justiça.
Viomundo – Como foi que essa mudança aconteceu no país? Ela foi gradual?
BB – A transformação dos Estados Unidos em um estado policial foi gradual, mas se acelerou com o Obama. Ele se tornou um grande adversário de várias liberdades civis. O governo dele processou mais gente responsável por vazamento de informações do que todas as administrações anteriores somadas. E ainda não parou. Agora, um general [reformado, James Cartwright] está sendo processado porque vazou informações sobre o que os Estados Unidos fizeram com o programa nuclear do Irã. Eles puseram vários vírus no sistema de computador do programa. O general pode ter sido a fonte que revelou o programa há alguns anos e agora está sendo atacado. Obama parece obcecado em barrar todo tipo de vazamento de informação.

Viomundo – O senhor acha que isso é responsabilidade do presidente Obama? Não teria acontecido no governo de outro presidente? Isso não é um processo que ocorre nos Estados Unidos, não importa quem seja o presidente ou o presidente tem condições de barrar esse processo?
BB – Ele pode barrar. Ele tem o poder. Ele tem o poder de soltar todos os presos de Guantánamo. Tem o poder de suspender todos os ataques com drones e todas as guerras. Ele não usou esse poder. Ele vai entrar para a história como o responsável por todas essas coisas. Não pode fugir dessa responsabilidade.
Viomundo – Uma vez que você tem todas essas organizações (NED, Freedom House e outras) operando no mundo, elas ganham vida própria? Ou tudo isso é bem controlado pela Casa Branca?
BB – Você não pode absolver a Casa Branca de responsabilidade porque se essas organizações não estivessem fazendo o que devem fazer, não receberiam mais dinheiro [o NED é financiado pelo Congresso dos Estados Unidos com dinheiro público]. O fato de continuarem recebendo dinheiro mostra que o trabalho delas está sendo aprovado pela administração. Então, não se pode separar o governo dessas organizações. É a trilha do dinheiro. Sempre.
PS do Viomundo: No site de William Blum é possível ler alguns capítulos dos livros dele que foram traduzidos para vários idiomas, inclusive o espanhol. Mas não ainda para o português.
Clique abaixo para ouvir, em inglês, dois trechos da entrevista:


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Sustentabilidade - “O conhecimento é importantíssimo"


Líder comunitário e seringueiro conta como o acesso à educação e ao conhecimento o salvou da exploração na Amazônia 
 
por Gabriel Bonis publicado 30/06/2013 10:21
Gabriel Bonis- Fonte: Carta Capital
De Manaus*
Em uma sala de aula em Manaus, capital do Amazonas, a plateia ouve atenta as palavras de Manoel Cunha. Seringueiro de longa tradição familiar, o amazonense narra um de seus primeiros encontros com a “metrópole” manauense em 1998. Então presidente da associação comunitária de sua região, o extrativista voltava de avião de Macapá, no Amapá, e faria uma escala no aeroporto de Manaus, de onde iria para Carauari (AM).
O voo no Amapá atrasou e Cunha perdeu sua conexão na capital amazonense. O próximo avião para Carauari demoraria dias. O extrativista foi, então, para um hotel no centro da cidade. Pediu um quarto com janela para a rua. “Minha irmã morava perto do centro de Manaus. Achei que se ficasse na janela, eu a veria passar”, conta em um linguajar simples. “Meus cotovelos adormeceram na janela e ela não passou.”
Era de se esperar, completa aos risos, que a ideia não funcionaria. “O conhecimento é importantíssimo. A falta dele me levou a pensar que na capital do Amazonas, uma cidade com milhares de pessoas, eu poderia simplesmente esperar na janela a minha irmã passar.”
A história de Manoel Cunha, repetida mais tarde à reportagem, ilustra um Brasil onde o investimento na educação e na qualificação profissional esbarram em distâncias geográficas e na ausência de políticas públicas dos governos. Mesmo tendo sido alfabetizado precariamente pelas irmãs, foi a educação que ajudou o seringueiro a romper a lógica da exploração e se tornar um dos três principais secretários do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Hoje, ele coordena o diretório do CSN do Amazonas.
O conhecimento também foi a chave para superar a pobreza. “Minha mãe dizia que era uma benção ser pobre. Éramos pobres porque Deus queria, pois os ricos iam todos para o inferno. Mas conforme tive acesso ao conhecimento, ficou claro que éramos pobres porque a sociedade estava montada para que assim fosse”, lembra em sua ampla sala do CNS.
Cunha vem de uma região do Amazonas onde quem manda são os chamados “patrões”, uma versão amazônica dos coronéis. Os “patrões” eram os supostos donos das terras nas quais os trabalhadores exploravam os seringais. Eles impunham regras rígidas aos trabalhadores, estabeleciam quanto pagariam pela extração da borracha e ainda obrigavam os seringueiros a comprar comida em seus barracões, nos quais cobravam altos valores pelos alimentos. Um esquema quase análogo à escravidão. “Um dia, chegou à comunidade o Movimento de Educação de Base (MEB), que começou a abrir os horizontes dos ribeirinhos para a possibilidade de mudarmos essa realidade de exploração. Para isso, seria preciso formar grupos políticos e reivindicar nossos direitos junto à prefeitura.”
Os “patrões”, relata, tentaram evitar a atuação do MEB. Temiam que as reuniões do grupo levassem à organização política da comunidade e que os trabalhadores demandassem melhorias para a região. Foi o que aconteceu. “As políticas públicas no Brasil não andam sozinhas, precisamos pressionar. Ainda mais na Amazônia, onde temos grandes distâncias.”
Diferentemente do Pará, no Amazonas a maior parte dos conflitos não é gerada pela extração ilegal de madeira. No estado, o recurso pesqueiro é o catalizador de confrontos entre ribeirinhos e exploradores da floresta. “Conflitos surgem quando as comunidades preservam lagos da pesca predatória e firmas pesqueiras invadem essas áreas para pegar os peixes”, afirma. “Já enfrentei patrão, peixeiro e a polícia, que me ameaçavam para convencer a comunidade a liberar a pesca nestes lagos.”
Muitas vezes, os ribeirinhos acabavam enganados pelos “patrões” e liberavam a pesca. “Eles não sabiam, achavam que o dono das terras é o dono da água, mas não é assim.”
Para evitar esse tipo de pressão, Cunha ajudou a desenvolver um programa que qualifica moradores locais sobre leis ambientais. Esses agentes informam a população sobre seus direitos, impedindo que companhias pesqueiras explorem abusivamente os moradores de áreas isoladas.
O trabalho também ajuda indiretamente a espalhar o conceito de sustentabilidade e do apoio ao extrativismo, defendido pelo seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988. Na parede, Cunha mantém um quadro do líder acreano. “A produção extrativista também movimenta o PIB, mas é esquecida, não é registrada pelo governo. Sem apoio técnico, não dá para registrar quanto os produtos da floresta geraram em riqueza. E imagine quantos bilhões de reais em matéria prima ficam sem registro por causa da falta de apoio do governo ao extrativismo.”
*O repórter viajou a convite da Fundação Amazonas Sustentável (FAS).

TERRA

O texto do quadrinho abaixo trata do cientista, astrônomo e astrofísico Carl Sagan. 

Fonte: AQUI

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Carl Sagan,  é considerado um dos divulgadores científicos mais carismáticos e influentes da história. Possui mais de 600 publicações cientificas e é autor de mais de 20 livros.   Em uma época em que as belezas do universo não era tão divulgadas se restringindo aos cientistas e astrônomos, Sagan sempre tentava divulgar as grandes descobertas de uma maneira simples e acessível. A partir desse ponto, ele lançou a série “cosmos” em 1980. São 15 episódios onde Sagan explica para o mundo as belezas e mistérios do universo segundo a ciência moderna.

Aqui você curte uma pequena parte da série “cosmos” com seu famoso monólogo sobre o nosso planeta, o pálido ponto azul (vale a pena ver).

 Terra

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Ninguém supõe a morena
Dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema
Mando um abraço prá ti
Pequenina como se eu fosse
O saudoso poeta
E fosses a Paraíba...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu estou apaixonado
Por uma menina terra
Signo de elemento terra
Do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza
Terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mãe dê coragem
Prá gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas do nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Na sacada dos sobrados
Da velha são Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra!

 

 

sábado, 29 de junho de 2013

OUTRO BRASIL? SOMENTE COM PARTICIPAÇÃO E ARTE.

Escrito em 2006 que nos ajuda a pensar o presente e o futuro.
Zezito de Oliveira · Aracaju, SE
27/10/2006 · 67 · 4
 
Certa feita, conversando com um amigo educador/artista, que reside na cidade de Olinda, em Pernambuco, sobre o modo de a esquerda governar, ele externou para mim algumas preocupações referentes ao modelo de gestão de muitas administrações progressistas que ele conheceu e que se moldam facilmente à cultura política das oligarquias locais e realizam, mesmo que de forma mais eficiente, uma gestão cuja prioridade são apenas as grandes obras, os programas assistenciais e os shows com grandes artistas ligados à cultura de massa, o que acaba lembrando uma canção do Cazuza: “Um museu de grandes novidades” ou parafraseando Belchior: “Minha dor é perceber que apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mesmos, “pensamos” e administramos a coisa pública como os velhos coronéis.”

E o meu amigo fez o questionamento porque, ocorrendo o término do mandato (sem reeleição), uma outra administração ligada a partidos conservadores, com inteligência e perspicácia pode fazer a mesma coisa: realizar grandes obras, investir em programas sociais e prosseguir na organização dos mega shows e, conseqüentemente, passar para a população a idéia de que não haverá necessidade de se votar na esquerda novamente.

Se na época não consegui imaginar isso como uma possibilidade real, decorridos alguns anos dessa conversa, reconheço que essa opinião é pertinente e esse texto foi escrito para ajudar na reflexão sobre o assunto, na linha de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que o que é novidade facilmente torna-se comum, e por isso todo indivíduo ou organização que deseja ser sempre considerada e reconhecida deve continuadamente buscar se aprimorar naquilo para que foi criada e facilitar as coisas para que novas descobertas e novas invenções possam ter lugar.

E isso só acontece num ambiente de autonomia e que favoreça condições e oportunidades para a construção e reconstrução subjetiva dos indivíduos .

Nesse sentido, considero duas questões primordiais. Em primeiro lugar, atenção especial para a mudança de valores e práticas de relacionamento político pautado nos antigos procedimentos da elite dominante, como o clientelismo, o paternalismo, o autoritarismo etc...

Em segundo lugar, atenção especial àquilo que aponta para a criação de sujeitos mais solidários, mais livres, mais ousados, àquilo que cria e dá sentido à realização plena das pessoas (refiro- me aqui à produção artístico/ cultural).

No primeiro caso se faz necessário (re)construir, fortalecer ou criar estruturas formais e informais de participação “real” da população nas decisões sobre os rumos do governo, como os conselhos, as conferências, as câmaras setoriais, os fóruns e as redes, além do incentivo e apoio à organização da sociedade civil através das ongs, e cooperativas. Assim, se viabilizaria um ambiente favorável à gestação de novas idéias e recursos para resolver ou atenuar velhos problemas, o que também pode garantir a criação de um antídoto para evitar o retrocesso de condução antidemocrática das decisões, a partir da eleição de partidos ligados às velhas elites dirigentes, após suceder-se um governo de esquerda.

No segundo caso, democratizar o acesso aos meios de produção artística e dos meios de produção e difusão da informação, com orçamento decente e gestores comprometidos, preparados e que saibam ouvir os interessados no assunto, o que resultará em diretrizes e ações que garantirão à maioria da população a possibilidade de se expressar de maneira que não fiquem apenas se comportando como meros consumidores de um bocado de lixo que é comercializado como produto cultural e cujos conteúdos -- carregados de intolerância (inclusive religiosa), vulgarização do sexo, preconceitos vários, individualismo exacerbado, banalização da violência, etc., -- vão na direção contrária de tudo aquilo que defendemos, formando o “caldo” da cultura que conduz ao retorno e sustentação da nova/ velha direita.

E isso é tudo que muita gente que ousa lutar e acreditar em outro país menos deseja, mas que será inevitável, caso opiniões como a nossa não sejam levadas em consideração a tempo.

P.S.: Segundo o pensador italiano Norberto Bobbio a esquerda orienta-se por um sentimento igualitário e a direita aceita a desigualdade como natural. Embora no Brasil seja praticamente impossível perceber a diferença através dos discursos e propaganda em época de campanha eleitoral.

Quanto as questões que apresento no texto acima percebo que o modelo de gestão do Ministério da Cultura aponta para o que escrevi acima. Apesar da necessidade de aumento do orçamento e da capacitação técnica e redução da burocracia para o acesso dos pequenos empreendedores culturais do interior e das periferias aos editais. Em Recife, em visitas a comunidades periféricas e em conversas com artistas e arte-educadores populares e também com o Secretário de Cultura, João Roberto Peixe, que nos concedeu audiência de quase duas horas no ano de 2004, pude perceber que muito daquilo que queremos/sonhamos já é realidade. Na oportunidade, o secretário me entregou cópias do relatório de gestão 2000/2004 e da I Conferência Municipal de Cultura do Recife, da qual tive a honra de participar.

José de Oliveira Santos - “Zezito” Professor de história e ativista cultural 
 

O que ocorre nas redes

O mundo produz atualmente 5 bilhões de gigabytes de informação a cada dois dias. Portanto, é evidente que “estar na rede” significa recolher uma parcela, muito pequena, de informações disponíveis na web. No caso das redes sociais, é o indivíduo – ou sua rede mais próxima de amigos e conhecidos – quem seleciona o que será exibido em seu mural ou timeline. Então, não temos um movimento mobilizando as pessoas, mas vários movimentos simultâneos que podem ser, perfeitamente, contraditórios, convergentes ou até mesmo antagônicos entre si. Por Vinicius Wu.

O fenômeno da mobilização em rede é algo novo, mas não indecifrável. Por hora, não há – e talvez jamais venhamos a ter – explicações definitivas sobre o sentido e a origem das mobilizações dos últimos dias no Brasil. Mas é possível produzir diagnósticos e esboçar cenários, que nos permitam uma compreensão mais apurada do que ocorre por esses dias no país.

Em primeiro lugar, talvez seja necessário afirmar que não estamos diante de UM movimento, mas de vários. Uma rede é formada por diversos “nós”. Uns se comunicam com outros, mas nem todos interagem, ao mesmo tempo, com todos. Assim, por exemplo, um sujeito que vai às ruas em favor do transporte público de qualidade não influencia, em praticamente nada, um outro que vai a uma passeata defendendo a prisão de todos os políticos e o fechamento do Congresso Nacional (sim, há vários cartazes com mensagens semelhantes).

O uso que um indivíduo faz de uma rede social tem por base uma determinada seleção de informações, realizada de acordo com seus valores, gostos, preferências e aspirações. Nunca é demais lembrar, que ao utilizarmos o facebook ou o twitter o fazemos, principalmente, enquanto usuários de um sistema de distribuição de informações em rede.

O mundo produz atualmente 5 bilhões de gigabytes de informação a cada dois dias. Portanto, é evidente que “estar na rede” significa recolher uma parcela, muito pequena, de informações disponíveis na web. No caso das redes sociais, é o indivíduo – ou sua rede mais próxima de amigos e conhecidos – quem seleciona o que será exibido em seu mural ou timeline. Então, não temos um movimento mobilizando as pessoas, mas vários movimentos simultâneos que podem ser, perfeitamente, contraditórios, convergentes ou até mesmo antagônicos entre si.

E o que há é exatamente isso. Estamos diante de manifestações que reúnem, ao mesmo tempo, pessoas que defendem o fim do sistema capitalista e outras que gostariam de extinguir os partidos de esquerda. É a pós-modernidade transformada em movimento de massas.

Ocorre que, além disso, é importante ter consciência de que alguns “nós” influenciam mais do que outros. E o problema fundamental para a esquerda nesse processo é que há um grande partido político nesse país que, com muita habilidade, se tornou o principal “nó” dessa rede.

Há, nesse momento, uma direção política, sim, conduzindo os protestos. E essa condução é dada pela grande mídia. Foi ela quem “capturou” a agenda e fez transitar a pauta principal dos protestos da luta pela redução das passagens à luta abstrata contra a corrupção. A ação política da mídia lançou nas bocas – e nos cartazes – dos manifestantes a PEC 37, cujo conteúdo quase ninguém conhecia até poucos dias.

E não há motivos para ilusões: trata-se de um processo organizado. Da mesma forma como têm ocorrido infiltrações nos atos (no Rio fala-se, inclusive, na presença de milícias na última manifestação) também há infiltrações em massa na rede. Perfis falsos são criados para disseminar a “pauta” das manifestações. Alguns movimentos e organizações que estavam na origem dos atos já identificaram, inclusive, a criação de ‘eventos’ no facebook em seus nomes por pessoas completamente estranhas à suas estruturas.

E a grande mídia – que inicialmente condenou os atos – passou a acolher o sentimento partilhado pelas pessoas mobilizadas para, a partir daí, moldar a agenda dos protestos. Seus conteúdos incidem com grande força sobre os debates na internet. Seria muito ilusório supor que a força da TV não funciona como um grande vetor dos debates na web.

Os telejornais selecionam em suas edições cartazes e depoimentos que se referem, exclusivamente, ao tema da corrupção. O perfil é sempre o de uma classe média, branca, com tinta verde e amarela nos rostos e bandeiras do Brasil nas mãos. Diversos manifestantes levaram às ruas do país nos últimos dias cartazes com pedidos de regulação dos meios de comunicação ou com críticas – e até ofensas – a alguns órgãos de imprensa. Porém, nenhum deles ganhou destaque no noticiário da TV ou na capa dos grandes jornais.

Ação política na web

Uma pesquisa realizada pela Universidade Oxford e publicada no “Scientific Reports”, em 2011, analisou os mecanismos por trás das mobilizações políticas realizadas nas redes sociais. Foram analisados os perfis no twitter de mais de oitenta mil usuários, de 59 cidades espanholas. A análise se deu sobre pessoas que participaram dos protestos convocados pelo 15-M em reação à crise econômica europeia.

A pesquisa observou que as pessoas recebiam uma quantidade enorme de mensagens, num curto espaço de tempo, gerando uma sensação de urgência, que as levava a aderir aos atos de forma explosiva, num movimento em cascata. A maioria das pessoas se mobilizava em função de mensagens recebidas por pessoas próximas, gerando um ciclo emocional que as levavam a seguir o mesmo comportamento quase automaticamente. É um verdadeiro boca a boca digital. Trata-se de uma prática utilizada desde os primórdios da humanidade, só que agora o boca a boca relaciona milhões de pessoas instantaneamente.

As pessoas atuam em rede por que veem nela uma forma de se verem reconhecidas. O fenômeno dos cartazes individuais não é algo fortuito. As pessoas buscam reconhecimento de suas causas, mas enquanto indivíduos. A multidão também organiza um processo de auto-reconhecimento e autovalorização dos sujeitos mobilizados. É por isso que as TV´s gastam um tempo significativo entrevistando os indivíduos e mostrando cartazes um a um. É o micromarketing transformado em ação política de massas pelos monopólios da comunicação no Brasil, trata-se do fenômeno do “novo modelo mental” tão debatido nas atuais estratégias de marketing das grandes empresas do mundo.

É como se as pessoas estivessem acessando um produto e compartilhando-o na rede com uma grande carga emocional, que funciona como um instrumento de propaganda poderosíssimo. A aprovação dos atos está se contagiando rapidamente (pesquisas já indicam quase 90% de apoio) e a experiência de aprovação de um contagia outros com uma velocidade impressionante.

Estima-se que a cada minuto 600 pessoas tenham sido convidadas para o ato em São Paulo na última semana. Por isso tivemos atos na quinta, 20 de Junho, maiores do que os da segunda, 17, tendo apenas três dias de mobilização entre o primeiro e o segundo.

E o problema é que a mídia é quem está compartilhando e canalizando o sentimento das pessoas. Governos e partidos políticos não. E é por isso que, diante das ações de vandalismo os telejornais estão insistindo na tese de que “um pequeno grupo” de manifestantes é responsável pelas ações de violência.

É imprescindível que os governos abracem as causas dos manifestantes, transformando-as em ações concretas. Pois quem ofereceu esse acolhimento até aqui foi a mídia.

Um exemplo importante a ser seguido foi dado pelo Governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que abriu um canal de diálogo direto com manifestantes, pela internet, ao vivo, em seu Gabinete Digital. Como resultado obteve mais de meio milhão de acessos ao portal que transmitia o diálogo.

O resultado, embora surpreendente, tem explicação: Não basta apenas propor soluções, é preciso abrir canais de escuta para que as vozes das ruas se sintam acolhidas pelo Poder Público. O processo de saída da atual situação será tão importante quanto as soluções apresentadas pelos governantes. Ainda que haja uma desmobilização nos próximos dias – o que seria absolutamente natural – é fundamental transmitir, com o máximo de clareza e nitidez, os próximos passos para que não estejamos sujeitos a uma explosão ainda mais violenta no futuro.

É hora da política, de liderança, de disputar hegemonia na sociedade brasileira. As lideranças políticas da esquerda e do campo progressista devem trabalhar para que seus governos se afirmem enquanto canal de acolhimento e legitimação das propostas levantadas pelas manifestações. Mas isso só será possível ouvindo, redesenhando processos e repactuando politicamente sua ação no próximo período.

Estamos diante de um processo que pode redefinir a política brasileira nas próximas décadas e o tempo da disputa parece estar obedecendo à instantaneidade dos meios digitais. Não há tempo a perder.

(*) Secretário-geral de governo do Estado do Rio Grande do Sul e coordenador do Gabinete Digital.

TV Brasil estreia nesta segunda (1º) a série 'De Virada'.Iniciativas de transformação que partiram de dentro da própria comunidade, realizadas com muito esforço e acreditando no poder transformador da cultura local.

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TV Brasil 28.06.2013 - 19h54 | Atualizado em 28.06.2013 - 20h24
A TV Brasil estreia, nesta segunda-feira (1º), a série de documentários 'De Virada'. Os episódios, que serão exibidos de segunda a sexta às 19h30, mostram como a cultura pode ser um agente de transformação social e individual em regiões onde a escassez parece predominante.
O foco principal da série está nos jovens residentes em periferias de grandes centros urbanos, locais onde as oportunidades são poucas e as ofertas de contravenção, muitas. O 'De Virada' vai atrás de iniciativas de transformação que partiram de dentro da própria comunidade, realizadas com muito esforço, perseverança e acreditando no poder transformador da cultura local.
'De Virada' é produzida pela TAL – Televisão América Latina, organização social de interesse público, sem fins lucrativos, dedicada à produção e distribuição de conteúdos, em parceria com o Governo Federal, através do Ministério da Cultura.
Veja a chamada do primeiro episódio:

 

"Arraial na cidade: reinventando a identidade cultural".

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Festas juninas têm versão modernizadas no país

Ouça o áudio AQUI
Lívia Carla - Radioagência Nacional 28/06/2013
Festas juninas têm versão modernizadas no país
 As festas juninas chegaram nas cidades e vieram com força total. Mas será que é possível  manter a tradição dos festejos diante de tantas inovações e fora do campo?

  "Arraial na cidade: reinventando a identidade cultural". 
 
Ouça o primeiro capítulo (de um total de cinco) da série especial "Arraial na cidade: reinventando a identidade cultural". Produção e reportagem: Lívia Carla. Realização: Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, uma emissora EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Apoio: Arpub (Associação de Rádios Públicas do Brasil). Ouça todos os capítulos: 1 / 2 / 3 / 4 / 5

Exposição traz projetos culturais pensados por Mário de Andrade

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Elaine Patricia Cruz - Agência Brasil 28.06.2013 - 20h36 | Atualizado em 28.06.2013 - 20h51

Cândido Portinari, Antônio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco em1936 (CPDOC-FGV Projeto Portinari / Wikimedia Commons)
 
São Paulo –  As políticas culturais desenvolvidas pelo modernista Mário de Andrade (1893-1945) são o foco da Ocupação Mário de Andrade, exposição que começou hoje (28) no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. Poeta, escritor, crítico de arte, professor, folclorista, intelectual e idealizador do modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi também diretor do Departamento de Cultura da Municipalidade de São Paulo (equivalente à atual Secretaria de Cultura) entre os anos de 1935 e 1938.
Como diretor, concebeu a criação de bibliotecas infantis, parques infantis e até de uma discoteca pública, com um importante acervo musical que existe até hoje no Centro Cultural São Paulo.
A exposição faz parte de um projeto que tem o objetivo de apresentar artistas ou pensadores brasileiros que são referência e que servem de inspiração para outras gerações. A curadoria ficou a cargo de Silvana Rubino. “O tema desta ocupação é este Mário perdido em meio a papéis em diferentes repartições públicas, inventando uma política de cultura em constante diálogo e colaboração com parceiros como Paulo Duarte [1899-1984] e Rodrigo Mello Franco de Andrade [1898-1969]”, diz a curadora, no texto de apresentação da exposição.
A Ocupação Mário de Andrade é interativa e apresenta mais de 400 itens, entre cartas, filmes, documentos, fotografias e objetos do modernista. “A exposição reúne um conjunto de cerca de 40 cópias de documentos [não há originais] constituídos de fotos de Mário e de seus interlocutores no período, trechos de cartas, programas de concertos, projetos que ele desenvolveu nesses anos no departamento, vídeos de danças populares, arquivos de áudio, registros das variações de sotaques brasileiros, exemplares de arte popular, um conjunto de mapas e algumas imagens de obras de arte que ele colecionava”, disse Selma Cristina da Silva, gerente do Observatório do Itaú Cultural na área de Gestão e Políticas Culturais, em entrevista à Agência Brasil.
Segundo Selma, enquanto diretor do departamento, Mário pensou em várias questões de política e de gestão cultural que são discutidas até hoje. “Entre 1935 e 1938, ele [Mário de Andrade] já começa a pensar temas que são discutidos até hoje tais como patrimônio, mapeamento cultural, democratização de acesso, preocupação com a formação de pessoas e até em como se levar concertos e bibliotecas à periferia”, disse. “Ele criou, por exemplo, a ideia de biblioteca circulante, que era feita em uma jardineira, onde ele ia às periferias”, contou.
A exposição foi dividida em módulos, com gavetas e portas que podem ser abertas e que simulam o gabinete de trabalho do escritor. “Como ele era um homem múltiplo, que pensava e pesquisava muitas áreas, tentamos reproduzir com o gabinete um espaço de curiosidade, onde se abrem gavetas para sair um som ou uma carta, por exemplo”, explicou Selma. Cada módulo apresenta um dos projetos pensados por Mário de Andrade.
A exposição é gratuita e vai até o dia 28 de julho.
Edição: Carolina Pimentel
 
  • Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0

sexta-feira, 28 de junho de 2013

POSTV, de pós-jornalistas para pós-telespectadores

ECOS DO PROTESTO

Por Elizabeth Lorenzotti em 25/06/2013 na edição 752
Como diria Henfil, deu até no New York Times. “One group, called N.I.N.J.A., a Portuguese acronym for Independent Journalism and Action Narratives, has been circulating through the streets with smartphones, cameras and a generator held in a supermarket cart – a makeshift, roving production studio” (NYT, 20/6/2013, íntegra aqui).

N.I.N.J.A., sigla em português para Narrativas Independentes Jornalismo e Ação é o grupo responsável pela POSTV, sua mídia digital independente. E não nasceu agora, mas há um ano e meio, e está ancorada no movimento nacional Circuito Fora do Eixo. Nas manifestações que tomaram as ruas de várias capitais, ganhou maior visibilidade e chegou a picos de audiência de 120 mil espectadores. O que significa uma marca de 1,2 dos ibopes oficiais – e não é pouco, pois muitos programas da TV aberta não o atingem.
Nesses tempos fora do eixo e de paradigmas, talvez seja este o embrião da nova mídia do futuro que já é hoje – uma POSTV feita por pós-jornalistas, para pós-telespectadores.
Com seus smartphones e câmeras, eles protagonizam uma grande novidade na cobertura dessas manifestações e na alternativa à mídia tradicional. Segundo um dos ninjas, Bruno Torturra, trata-se de outra concepção de mídia. E sua diferença com a tradicional começa pela “honestidade, a ética, o posicionamento integrado dentro dos protestos e não lançando mão de analistas; sem drones, sem helicópteros, mas testemunhando. E a credibilidade pela não edição, a não mediação de interesses comerciais. A grande mídia teve e tem grande papel no tamanho da alienação política do país”.
“Tenho de ficar”
Mas o que é, e como é feita a POSTV? Na semana passada, no meio das manifestações, um garoto tuitava: “Não precisamos de mídia partidarista, temos celulares!”.
Síntese perfeita de novos tempos aos quais os jornalistas da mídia tradicional precisam ficar atentos. Enquanto a Globo ficava do alto de edifícios, sitiada, a mídia independente sempre esteve no meio das ruas nesses dias de rebelião. “Estamos aqui, do alto deste edifício”, diziam os repórteres globais. Mas quem quer ficar vendo manifestação do alto de edifícios?, eu me perguntei. E fui às redes, onde encontrei www.postv.orgpor meio de chamadas no Facebook, onde o N.I.N.J.A. tem uma página.
E vi, na noite/madrugada de terça-feira (18/6), a cobertura de Filipe Peçanha, 24 anos, comunicador da Casa Fora do Eixo já há alguns anos, documentando ao vivo, em São Paulo, durante horas e sem edição, os embates entre manifestantes e a tropa de choque da Polícia Militar, desde a Praça da Sé até a Avenida Paulista. “Antes de a polícia chegar, a manifestação era totalmente pacífica. Saímos por volta das 17 horas, demos a volta pelo Parque Dom Pedro, subimos de novo para a Sé, partimos para a Augusta. Em todo o trajeto que acompanhei, enquanto não houve polícia não houve tumulto. Daí voltamos porque soubemos dos incidentes na sede da Prefeitura. E voltamos para a Paulista, porque a tropa de choque foi para lá.”
Chegaram às 20 horas, não havia mais muitos manifestantes. Mas o painel da Copa do Mundo, da Fifa com Coca Cola, foi incendiado. Caíram muitas latinhas, um catador veio retirar e os manifestantes disseram: “Que bom, pelo menos alguém aproveita alguma coisa da Coca Cola”.
Estes relatos todos foram feitos pela POSTV. Quando chegou a polícia, manifestantes foram muito agredidos e um deles praticamente enforcado por meia dúzia de policiais. Filipe entrevistou dois rapazes de branco que ajudaram a apagar o fogo.
– Quem são vocês? Bombeiros?
– Não, nós somos protestantes.
– Protestantes? Da igreja?
– Não, viemos aqui por vontade própria protestar, mas somos contra o vandalismo.
“Depois”, conta Filipe, “entrevistei os dois de novo, sentados no meio fio. Um deles disse que tirar as latinhas do painel tudo bem, mas incendiar não, e que a PM estava de parabéns por ter acabado com aquilo.”
O repórter comentou: “Não, eu vi muita violência da PM, acho que você não viu o que eu vi”.
“Coloquei o meu ponto de vista”, diz Filipe.
Alguns criticam, via Twitter, e dizem que a cobertura não é plural. Responde Filipe: “Nós documentamos o que está acontecendo do ponto de vista de quem participa também. A Mídia Ninja se compreende como narrativa independente de jornalismo e ação, e essa ação é o ativismo, que nos coloca em movimento em tempo real, não só fazendo produção de conteúdo, mas também nos envolvendo com o processo. O Ninja está envolvido com as manifestações de rua. A gente estava dentro, junto com os manifestantes”.
Portanto trata-se de uma cobertura com lado. Mas quem não tem?
No meio das manifestações, eles dão voz a gente de todos os tipos e matizes, numa espécie de método socrático de entrevista. Como o rapaz que se dizia a favor do Movimento Passe Livre (MPL), mas contra partidos.
– E como você acha que deveriam dirigido o país?
– Ah, eu acho que quem devia dirigir é uma mulher de cabelos vermelhos que começou o movimento, não sei o nome dela.
– O país deveria ser dirigido por ela?
– É, eu acho. E não devia ter partidos.
– Mas o MPL não é contra partidos, você não apoia o movimento?
– Apoio, mas não nessa parte.
Um certo major Felix, durante os conflitos na Paulista, também foi entrevistado. Depois de muito tempo, deu este nome.
– Por que o senhor não está com a identificação na farda?
– (Sem resposta)
– Quem é seu comandante?
– Não sei.
– O senhor é comandando por ele e não sabe o nome dele?
Outra entrevista, feita em Belo Horizonte, palco de repressão violentíssima da Força Nacional em dia de jogo, no sábado (22/6), houve outra entrevista parecida feita por Gian Martins. Transmiti a íntegra do Facebook, onde muitos de nós sabemos que há censura e a sentimos, mas foi deletada, junto com vários outros posts referentes às manifestações. Mais ou menos assim, era uma espécie de coletiva de um coronel no meio da rua:
POSTV- A proibição de manifestações em capitais onde há Copa, imposta pela Fifa, na cria um Estado de exceção?
Coronel - Não posso opinar, mas quando você elege um representante político, está dando a ele um cheque em branco...
Depois de algum tempo a POSTV se retira e comenta: “Jornalistas são muito redundantes em suas perguntas, só querem saber quantos feridos.
Repórter do Hoje em Dia: “Que pergunta não foi feita?”
POSTV quer que conversem, mas o colega vai embora.
“É uma pena”, diz ele, “poderia ser um bom debate.”
Em certo momento a POSTV, junto a várias pessoas, leva gás lacrimogêneo e ninguém tem vinagre. Um fogo de artifício desencadeou o gás e muitas cacetadas.
“Estou com medo”, diz o repórter da POSTV na Praça Sete, que já estava havia doze horas trabalhando direto.
Já em Salvador, um colaborador que se juntou à POSTV no sábado (22/6), também dia de jogo de Copa e de manifestações, e de repressão violenta, que conquistou 8 mil pós-espectadores, exclamava: “Quero ver agora quem diz que baiano é preguiçoso”, enquanto corria esbaforido da polícia pelas ruas de Salvador. Atingido por gás pimenta, foi se recuperar no banheiro do Shopping Iguatemi, teve de tirar a camiseta e lavar, porque “ardia como churrasquinho”.
“Eu não vou embora, eu tenho de ficar” ele dizia. Em outro momento, comentou que um policial pediu para diminuírem o gás. Nem eles estavam aguentando.
Colaboradores no Brasil e no exterior
Pós-repórteres “precisam ter disposição e também coragem de ficar no meio dos manifestantes, questionar a polícia e os próprios manifestantes”, diz Bruno Torturra.
O bravo pós-repórter de Salvador é novíssimo membro da mídia, ofereceu seus serviços em cima da hora. Assim tem acontecido na POSTV por esses dias. Muita gente chegando, de todo o país e do exterior - onde várias transmissões são feitas na Europa, com brasileiros se solidarizando ao movimento.
No domingo (23/6), a página do NI.N.J.A. no Facebook postou uma convocação de correspondentes para ajudar na cobertura em tempo real dos protestos:
“Fotógrafos, repórteres, cinegrafistas, cidadãos a fim de entrar em nossas tropas, escrevam para midianinja@gmail.com dizendo de onde são e como podem colaborar. Estamos começando a cadastrar gente do país todo. Primeiro passo na montagem de uma rede nacional de jornalismo independente antes do lançamento do nosso site. Quem anima?”
Em 30 minutos já havia 125 compartilhamentos. No dia 24, até às 19 horas, havia 735 “curtir” e 413 compartilhamentos. Gente oferecendo material de todos os cantos, gente perguntando o que é preciso, muita gente.
Segundo Bruno Torturra, é impossível dizer o número de colaboradores porque, devido ao caráter de rede, há pessoas que se dispõem a ser um ninja por um dia, ou por horas. Na quinta-feira (20/6), o N.I.N.J.A. cobriu 50 cidades. Em São Paulo, o núcleo é de seis a oito pessoas, com idade média de 22 anos e nenhum com formação jornalística.
A cobertura via internet chama-se streaming. Da Wikipédia:
Streaming, fluxo de mídia, é uma forma de distribuir informação multimídianuma redeatravés de pacotes. É frequentemente utilizada para distribuir conteúdo multimédia através da Internet. Em streaming, as informações multimédia não são, usualmente, arquivadas pelo usuário que está recebendo o stream (a não ser a arqueação temporária no cache do sistema ou que o usuário ativamente faça a gravação dos dados) - a mídia é reproduzida à medida que chega ao usuário, desde que a sua largura de banda seja suficiente para reproduzir os conteúdos em tempo real. Isso permite que um usuário reproduza conteúdos protegidos por direitos de autor, na Internet, sem a violação desses direitos, similar ao rádio ou televisão aberta. A informação pode ser transmitida em diversas arquiteturas, como na forma Multicast IP ou Broadcast.”
A POSTV utiliza o TwitCasting, mas é possível usar também o Android, entre outras plataformas. E o trabalho é completamente copyleft. Em todas as praças, eles explicam como transmitem e convocam as pessoas a também serem o que chamam de “midialivristas”. Com um celular, uma banda 3G e um laptop na mochila para recarregar. A cada meia hora saem do ar, recarregam e voltam em minutos. Claro que perdem espectadores; os insistentes voltam, outros chegam.
Há dificuldades de sinal quando há muita gente com celular, há raros locais com wi-fi. “Fazemos cobertura de rua faz tempo, criando tecnologia há um ano e meio”, conta Bruno Torturra. E não é só streaming. A mídia tem fotógrafos que mandam da câmera para o fone, do fone para a rede, e a cobertura é instantânea na página do Facebook. “A gente faz o que dá, mas vai até o fim. Se não tem 3G, temos alguém com carro, que leva o cartão do fotógrafo até onde encontra internet e volta”.
Liberdade de expressão e força da rede
O projeto começou em junho de 2011, após o sucesso das transmissões ao vivo das Marchas da Maconha e da Liberdade, em São Paulo, Depois, foram lançados alguns programas, como o Supremo Tribunal Liberal (Claudio Prado), o Segunda Dose (Bruno Torturra) e Desculpe a Nossa Falha (Lino Bocchini). E começaram as transmissões de festivais independentes de música em todo o país.
Eles explicam que a POSTV, na prática, reinventa e potencializa a tecnologia do streaming, baseando-se em dois pontos centrais: “Liberdade de expressão absoluta (aproveitando que não temos anunciantes nem padrinhos) e a força da nossa rede, que é grande e divulga forte todos os programas”.
Os formatos também são livres: programas de debate, transmissão de shows, sofá armado no meio da rua com o apresentador entrevistando os passantes. E como estão na internet sempre ao vivo, a interatividade é outro ponto responsável pelo sucesso da iniciativa. Quem está assistindo manda comentários e perguntas por Twitter, e-mail e até mesmo entra por Skype e participa do papo. Já deram vários furos, como as imagens da prisão do rapper Emicida durante um show em Belo Horizonte. E também foi o veículo escolhido pelo ex-ministro Franklin Martins para sua primeira entrevista após deixar o governo.
E o financiamento? Quem sustenta?
A rede Ninja faz parte do Circuito Fora do Eixo; em São Paulo tem base em uma das Casas, no Cambuci. Circuito Fora do Eixo é uma rede de trabalhos concebida por produtores culturais das regiões centro-oeste, norte e sul no fim de 2005. Começou com uma parceria entre produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR) que queriam estimular a circulação de bandas, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos nesta rota desde então batizada de Circuito Fora do Eixo. 
Hoje o circuito está em 25 das 27 unidades federativas do Brasil. O sul, o centro-oeste, o sudeste e o norte são regiões totalmente associadas, já que contam com todos os estados inclusos. Há 72 pontos espalhados pelo país, que “gostam de produzir eventos culturais, debater comunicação colaborativa, pensar sustentabilidade, pensar políticas públicas da cultura”.
Dezesseis gestores de diferentes pontos do Brasil migraram para São Paulo, formando a Casa Fora do Eixo SP, nos limites da Liberdade. “Mas basicamente, nós experimentamos, compartilhamos e aprimoramos tecnologias livres de se produzir cultura”, dizem em seu site.
Atualmente a sustentabilidade da POSTV se dá via Circuito Fora do Eixo, mas continuam as discussões sobre crowdfunding – ou financiamento coletivo, que consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo por meio da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas nos projetos – e toda e qualquer ideia de autossustentabilidade.
Aliás, na terça-feira (25/6) foi convocada uma discussão aberta na Praça Roosevelt, em São Paulo, atual “Praça Rosa”, para “discutir as saídas para garantir a comunicação como um direito e não como um simples negócio comercial”.
Esta é a integra da convocação
“A cobertura das manifestações mostrou que a velha mídia está mais caduca do que nunca, mas que ainda tem um grande poder. A mídia tradicional no Brasil é concentrada, nada plural e nada diversa. Muitas vezes ela se comporta como um partido político, tentando dar a pauta e organizar os setores mais conservadores. Enquanto isso, a internet tem sido o espaço arejado de diálogo e organização, mas o acesso à rede ainda é limitado a 40% das residências, com um serviço péssimo das empresas de telecomunicações, que ainda querem acabar com a neutralidade da rede. As grandes corporações que atuam na rede faturam bilhões sobre a violação de privacidade dos usuários, e vários governos usam essas informações para controlar os cidadãos. Venha discutir as saídas para garantir a comunicação como um direito e não como um simples negócio comercial.
Censura no Facebook
No sábado (22/6), amigos denunciaram no Facebook o bloqueio da página do N.I.N.J.A.
“Fomos denunciados por conteúdo impróprio ou pornográfico. Estão ‘analisando o caso’. Mas não tivemos qualquer argumento detalhado ou chance de defesa escrita. Acreditamos que pode ter sido fruto de denúncias de usuários contra fotos da manifestação anti-cura gay, anti-Feliciano de ontem. Fotos em que não havia qualquer pornografia, apenas material de afeto e felicidade explícita. Pedimos que compartilhem e pressionem o Facebook a recolocá-la no ar. Infelizmente, por enquanto, essa é nossa principal plataforma de divulgação da nossa dedicada cobertura independente dos protestos no Brasil.”
A página foi desbloqueada depois de cerca de quatro horas. O mesmo não aconteceu com a do jornal Brasil de Fato, bloqueada desde o dia 16 de junho. Os jornalistas não conseguem postar a não ser com um programa especial (ver aqui).
Portanto, não se trata de paranoia, e existem páginas em todo o mundo denunciando a censura no Facebook. No ano passado, jornalistas, escritores, poetas e artistas protagonizaram um “Dia contra a Censura ao Nu no Facebook”. O robô censor de Mark Zuckerberg atira a esmo e censura qualquer nu, seja de Michelangelo, Leonardo, os grandes clássicos e/ou menos famosos. Nem Lady Godiva escapou. Além de mães amamentando, que são alvos planetários da censura facebookiana. O protesto consistiu em publicar nus variadíssimos e foi parar nos jornais.
Instalou-se a discussão sobre quem censura. Robôs? Censores contratados? Denúncias de anônimos? Muitos concluíram que se trata de todas as alternativas, em vigor até hoje. O portal UOL divulgou texto, no ano passado, afirmando a existência de censores contratados em todo o mundo por um dólar a hora de trabalho. Além de imagens, textos também são censurados. O que se estranha é que, por mais que denúncias sejam feitas, páginas como “Golpe Militar 2014” continuem no ar, assim como páginas neonazistas e propagadoras de violência (ver aqui).
O poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer deste então compõe um dossiê sobre censura nesta rede, que até o dia 24 de junho contabilizava 61 relatos (ver aqui).
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Elizabeth Lorenzotti é escritora e jornalista, autora de Suplemento Literário – Que Falta ele Faz (ensaio), Tinhorão, o Legendário (biografia) e As Dez Mil Coisas (poesia)