terça-feira, 24 de setembro de 2013

Um simbolo da capital sergipana está fadado ao desaparecimento.

Antônio Lindvaldo
 
O historiador não tem poder de polícia. O professor de História não é membro do conselho de cultura ou do IPHAN (apesar de alguns serem). Ele provoca a conscientização por vários meios: em aula, em textos e nas redes sociais...
Diante dessa nossa função, volto a me posicionar sobre a destruição de um bem material coletivo (pois apesar de ser particular, de uma família, de empresários, é, sobretudo, bem público pelo sentido histórico coletivo que ele se encerra). Refiro-me a destruição da Fábrica Sergipe Industrial que vai virá um centro comercial da zona norte (central, melhor dizendo) de Aracaju. 
A relação da fábrica SI é muito estreita com a história de Aracaju do final do século XIX ao século passado. O apito da fábrica, a chaminé da mesma, foram, por muito tempo, símbolos marcantes do cotidiano dessa capital sergipana que surgiu e se ergueu , em parte, por meio de preceitos liberais de ordem e progresso de meados do século XIX... Do apito da fábrica operários e operárias tinham uma ideia do seu turno de trabalho (quando iria começar ou terminar sua jornada na fábrica) Idem o cidadão comum que acordava com o barulho da mesma ou passava a determinar sua história com essa sonoridade. Esse simbolo se fazia presente em Aracaju, mesmo havendo o soar dos sinos das igrejas (do Santo Antonio, de São Salvador e depois a Matriz – hoje catedral) Ele adentrava, com muita propriedade, no cotidiano da capital sergipana, como um novo medidor do tempo, vinculado ao trabalho de uma nova fase da história da humanidade. O apito das fábricas torva-se quase soberano. A Sergipe Industrial era uma das fábricas a impor esse novo simbolo na capital sergipana. 
Também existiam as chaminés. Destas saiam a fumaça negra que poluía o ar ou o esgoto que sangrava o rio Sergipe. Todos os dia dejetos (a química do tecido) adentravam o rio dos aracajuano. Nossa ar e rio foram contaminados. A sociedade cedeu a fábrica espaços. Em nome do lucro (parte dos objetivos da fábrica) nem se pensou no prejuízo que estava sendo dados a todos.




E por que os seus donos, não devolvem a sociedade um memorial, um museu, um lugar de lazer, de cultura....?



Mas pensar isto é ir além do desejo do lucro, de um espaço somente para o comércio...
Assim, nessa pequena reflexão, pensemos o quanto essa destruição da fábrica é mais um uso da sociedade ou uma cuspida nela mesma. Depois de tantos anos que a fábrica sugou a sociedade não seria justo que a mesma desse em troca algo em beneficio da sociedade.. ? Não podemos usar seus espaços para contar parte dessa memória e História? De transformarmos ela em espaços de mais lazer cultural? A alternativa é só um lazer vinculado a lojas comerciais, a um shopping???
A gente (a cidade) não precisa somente de comida. Necessita de diversão e arte. De igual forma, diria: memória e história são ingredientes que corroboram com a saúde espiritual do cidadão. Devolvam a sociedade aquilo que ela deu tanto aos donos da fábrica SI.

Leia também:

Como é dificil ser Sergipano  AQUI

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"Porque as pessoas não são feitas apenas de corpo e alma. São feitas de histórias."

-Frei Betto em Minas de Ouro.




 

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