domingo, 28 de junho de 2015

Sarau Virtual Noites de São João, Noites de Junho



A primeira publicação desse post aconteceu em um domingo, 28 de junho de 2015. Desde então, em junho de 2016 e em junho de 2017, nova edição é realizada com atualizações  e pequenas modificações. Em 2019 resolvemos publicar a atualização em nova página. 

Sarau virtual noites de Junho, noite de São João. Edição 2019










Noite de São João/ Fernando Pessoa musicado por Vitor Ramil - Na interpretação de  Maria Lucia Sampaio



Alfredo Volpi nasceu na cidade de Lucca (italia) em 14 de abril de 1896 e faleceu em São Paulo (Brasil) em 28 de maio de 1988. Participou da segunda geração do modernismo. Fez um grande sucesso pintando bandeirinhas de São João. Nos anos 50 seguiu o campo do abstracionismo.


"São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração!"
- Alberto Ribeiro, composição do início do século XX.
São lindas as festas populares que evocam os santos juninos, Antônio, João e Pedro. Têm um sabor do Brasil rural, profundo, que tira da terra, mesmo tão mal dividida, seus frutos mais preciosos.
O dia de São João louva João Batista, o precursor, que denunciava os poderosos do seu tempo ("Raça de víboras! Escribas e fariseus hipócritas"). Seu símbolo maior é o da fogueira. Da chama que nos conduz, para o amor, a dois, à Justiça, ao calor da luta por um mundo melhor.
Viva São João!!!

 Chico Alencar - Professor de História, Escritor e Deputado Federal  (Psol -RJ)

A seleção musical desse post,  vai do tradicional ao contemporâneo, a exceção das músicas que dizem se referir a este ciclo, mas com uma acentuada marca de apelo sexual e palavrões, com pouca diferença para quem as ouve em qualquer época, local ou condição. 

As músicas da banda Cavalo de Pau e outras do chamado forró eletrônico, sinalizam o inicio desse momento, meados da década de 1980 para cá,  marcado por um distanciamento dos aspectos da crônica do cotidiano ou da crônica histórico-cultural,  como fazem as canções de  Gonzaga e de outros compositores afins.  

Desde então, uma grande quantidade de canções  consumidas por um grande público, sobretudo ligados as faixas etárias mais jovens,   passam a tratar  quase exclusivamente,  de temas mais românticos e no caso destas primeiras, do Cavalo de Pau, Mastruz com Leite e etc., com uma dose de lirismo e ternura,  até pueril, com menos intensidade nestes tempos que correm, quando conhecer uma pessoa e ir para a cama, pode acontecer em um flash de tempo.  

Certamente por este inicio de século XXI, ser um tempo de pouco lirismo e ternura nestas questões do amor de eros, ou  tempos de "amores liquidos",  na feliz  expressão cunhada pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman.  

Quem descreveu muito bem em forma de canção, foi o genial  Gilberto Gil. "A pegadora e o livre atirador "

 

 Há canções nesta seleção , somente para ouvir, outras para ouvir e dançar, Já outras não tem muito coisa em comum com o ciclo junino,  mas fazem citação de forma indireta a respeito de questões que tem a ver com estas de noites de São João, tempos de aflorar desejos e paixões. Pela qualidade merecem ser ouvidas. É o caso de Flor da Idade, de Chico Buarque  e Último Desejo de Noel Rosa. 

Outras sugestões são sempre bem vindas e poderão ser acrescentadas, é só fazer o envio através dos comentários no blog, no face ou pelo twitter. 

A proposta do Sarau virtual  é bom que seja também  presencial. A  sugestão indicada tanto na forma virtual, como presencial  pode ser replicada  por meios de veículos de comunicação, escolas, grupos/coletivos culturais ou sociais, orgãos públicos e etc.  

O coletivo Ação Cultural, em parceria com outros coletivos, individuos e  organizações,  bem que pode realizar algo assim no ano de 2016, incluindo (3) videos, quadrilha improvisada e roda de danças circulares temática. 

É bom para quem neste  mês de junho, tem se manifestado com relação a decadência da programação dos festejos juninos, notadamente no caso do Forró Caju,  em Aracaju, o qual cada vez mais incorpora o padrão empresarial, o que também se repete na maioria das atuais  "festas do interior ".  

Sobre a perda da poesia, do sentido brincante e comunitário,   das noites de São João ou dos festejos juninos,  é surpreendente  o mestre Luis Gonzaga no idos da década de 1950  já afirmar isso,  por meio de algumas canções como algumas das que constam nesta seleção. 

Consequência da urbanização acelerada e desordenada que acontece no Brasil desde a década de 1950, aliada aos aspectos negativos da concentração dos meios de produção e difusão cultural, nas mãos de grandes  grupos econômicos aliados a grupos politicos da direita oligárquica. O nordeste, um dos locais de resistência da tradição cultural do ciclo junino passa  também a sentir um maior impacto negativo, com o o atual ciclo de desenvolvimento e globalização por que vem passando a região.  

Um grande paradoxo! Como se verifica no Brasil há muitos anos, em que tradição cultural e desenvolvimento econômico e tecnológico  não conseguem caminhar muito bem, como bem nos mostra o filme bye bye Brasil. 

  No ano de 2016 a primeira realização de um Sarau presencial, inspirado em algumas indicações desse post e principalmente no projeto Caravana Luiz Gonzaga Vai à Escola.

 COLÉGIO SERGIPANO MOSTRA COMO É POSSIVEL CONHECER O NORDESTE ATRAVÉS DO CANCIONEIRO DE LUIZ GONZAGA.


  Zezito de Oliveira - Educador, pesquisador e produtor cultural.









LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DO SÃO JOÃO ANTIGO NA OBRA DE LUIZ GONZAGA

 São João Antigo
Já faz algum tempo, estamos sendo bombardeados por uma infinidade de músicas, se é que podemos assim chamá-las, que a cada ano surgem neste período que antecede as festividades juninas. Na sua quase totalidade, são músicas apelativas, com letras insinuantes e de duplo sentido, totalmente descompromissadas com o verdadeiro espírito da festa de São João. São músicas que em nada retratam os costumes ou a cultura do nosso povo, mas tão -somente visam à lucratividade. Ao que me parece, um objetivo já alcançado, haja vista o crescente número de cantores e adeptos deste gênero. Por serem músicas passageiras, de breve duração, podemos até classificá--las como mais um artigo de consumo para uma determinada faixa da população. Como não apresentam qualquer sustentação poética, estas músicas não conseguem resistir à ação demolidora do tempo, residindo neste fato a grande diferença entre estas e aquelas músicas mais antigas.
Dificilmente encontramos hoje músicas que cantem o São João na sua forma mais autêntica, como ainda é festejado no interior. O São João de quadrilhas e brincadeiras ao redor da fogueira, com balões e foguetões, onde as pessoas fazem pedidos a São João e se divertem com as adivinhações. O São João de fartura, com milho verde, canjica, pé-de--moleque, licor e aluá.
As marchinhas, os forrós baiões com motivação junina são hoje raríssimas exceções. Os atuais cantores da música nordestina parecem desinteressados na preservação deste estilo ou encontram-se já corrompidos pela lucratividade que o pornoforró lhes proporciona. Naturalmente que há exceções ao que foi exposto acima como exemplos, podemos citar os sanfoneiros Dominguinhos e Luiz Gonzaga, dois pernambucanos de fibra e que sempre souberam se manter fiéis ao compromisso de cantar os valores e a cultura da terra nordestina.
Diante deste quadro, nos parece muito confortante o fato de ainda podermos ouvir músicas que são verdadeiros clássicos da música junina. São obras que não envelheceram, não obstante tenham sido gravadas há quase 40 anos, e que ainda continuam trazendo alegrias e recordações até mesmo para o público mais jovem. Se não ouvimos com mais freqüência estas músicas, é porque os esquemas de divulgação não permitem. Quem não conhece, por exemplo, São João na Roça (A fogueira tá queimando/em homenagem a São João/ O forro já começô ô...), marchinha junina composta por Luiz Gonzaga em parceria com o poeta pernambucano Zé Dantas, em 1952, e cantada até os dias de hoje; Noites Brasileiras (Ai que saudade que eu sinto/das noites de São João/das noites tão brasileiras, das fogueiras/sob o luar do sertão...), também de autoria de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, gravada pela primeira vez em 1954; São João antigo (Era festa de alegria/São João/ tinha tanta poesia/São João/tinha mais animação...), outra marcha junina composta por Zé Dantas e Luiz Gonzaga no ano de 1957; São João no Arraiá (Ô Iaiá vem vê/Ô Iaiá vem cá/vem vê coisa bonita/São João no arraiá ..), composição de Zé Dantas gravada por Luiz Gonzaga em 1960; Olha pro Céu (Olha pro céu meu amor/vê como ele está lindo/ olha pra aquele balão multicor...), de José Fernandes e Luiz Gonzaga, gravada em 1951.
Estes são apenas alguns exemplos de músicas juninas que se transformaram em imortais sucessos e que, indiferentes à ação do tempo, continuam vivas ainda hoje. Com isso, vemos que a música que tem base poética, de único sentido e voltada para os valores da terra, não tem vida limitada. Para ela, sempre haverá espaço.
Observamos hoje, com tristeza, que a descaracterização do São João não está apenas na música, mas, também, na maneira como vem sendo comemorado. O que se vê hoje nas grandes cidades não passa de uma grosseira imitação.
É necessário que haja uma conscientização ainda maior no sentido de preservar esta que é uma das nossas mais tradicionais festas populares. Por tudo isso é que procuro refúgio no intetior, seguindo o conselho de Zé Dantas e Luiz Gonzaga.em São João Antigo, para ter a certeza de que não mudei, nem tão pouco o São João. Quem mudou foi a cidade.


SÃO JOÃO ANTIGO – (Zé Dantas & Luiz Gonzaga), 1957

Era festa da alegria
São João
tinha tanta poesia
São João
tinha mais animação
mais amor, mais emoção
eu não sei se eu mudei
ou mudou o São João

Vou passar o mês de junho
nas ribeiras do sertão
onde dizem que a fogueira
ainda aquece o coração
pra dizer com alegria
mas, morrendo de saudade
não mudei, nem São João
quem mudou foi a cidade


SÃO JOÃO NO ARRAIÁ – (Zé Dantas), 1960

Ô Iaiá vem vê
ô Iaiá vem cá
vem vê coisa bonita
São João no arraiá

Vem vê quanta fogueira
no terreiro embandeirado.
foguetes e balões
sob o céu todo estrelado
namoro à moda antiga
com suspiros ao luar
vem vê coisa bonita
São João no arraiá

Cachaça em Pernambuco
renda só no Ceará
café só em São Paulo
açaí só no Pará
no clube o ano novo
bom na rua é carnavá
natá só presta em casa
São João no arraiá.


SÃO JOÃO NA ROÇA - (Zé Dantas & Luiz Gonzaga), 1952

A fogueira tá queimando
em homenagem a São João
o forró já começô ô
vamo gente
rapá pé nesse salão
dança Joaquim com Zabé
Luiz com Yayá
dança Janjão com Raqué
e eu com Sinhá
traz a cachaça Mané
eu quero vê
quero vê paia avuá.


OLHA PRO CÉU – (José Fernandes & Luiz Gonzaga), 1951

Olha pro céu, meu amor
vê como ele está lindo
olha pra aquele balão multicor
como no céu vai sumindo
foi numa noite, igual a esta
que tu me deste o coração
o céu estava, assim em festa
porque era noite de São João
havia balão no ar
xote, baião no salão
e no terreiro o teu olhar
que incendiou meu coração.


Marcos Barreto de Melo

Salvador, junho de 2003

 fonte: http://www.revivendomusicas.com.br/reportagens.asp?id=81


Quem já passou o dia 24 de junho em outros locais que não seja o nordeste do Brasil, conseguirá entender muito bem o "espirito" da saudade expresso através dessa canção. Quem nunca passou pode imaginar como deva ser.



    


Clássicos do ciclo junino em Sergipe









SELEÇÃO DE PRIMEIROS SUCESSOS DO "FORRÓ ELETRÔNICO".





A mesma música acima na versão original em estúdio.



https://www.youtube.com/watch?v=rNRN3Rkh9WM




A música acima é para quem já tem um xodó. A música abaixo é para quem está a procura..

 

Conheça o Projeto São João Literário

As memórias de Festas Juninas presentes na literatura
18. 06. 2013

Literatura

-Fonte:  http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/51909

Por Maria Fernanda Moraes 


Dizem que um escritor alcança a universalidade quando consegue vincular seus regionalismos, modos populares específicos de certos lugares, circunstâncias biográficas e lembranças da infância e, ao mesmo tempo, dar a eles um caráter universalizante.
    
Não é à toa que um dos nossos festejos populares mais famosos, a Festa Junina, figura nos enredos de grandes escritores e ocupa perfeitamente essa lacuna da universalidade. Isso porque, apesar de já ser conhecida e arraigada na tradição brasileira, a Festa Junina tem origem nas antigas celebrações pagãs de povos da Ásia e Europa. Foi trazida ao Brasil pelos portugueses e adaptada à nossa cultura, que passou a celebrar Santo Antônio, São João e São Pedro.

Assim, é comum que todos tenham alguma lembrança dessa festividade: das músicas, das comidas, das brincadeiras, enfim, de qualquer uma dessas tradições que se tornam pratos cheios para os escritores. O crítico literário Davi Arrigucci Jr. vai mais fundo e diz que a presença dessas lembranças das festas juninas na literatura são fortes por serem “imagens que fazem parte de uma matéria extremamente pessoal e íntima, mas ao mesmo tempo também histórica, dependente de um desígnio programático bastante acentuado, no sentido da recuperação do passado histórico e da tradição popular, como uma forma de tomada de consciência da realidade brasileira em todas as suas dimensões”.  

Para ilustrar, separamos alguns versos de escritores que trazem a temática em suas obras ou fazem referência a essa tradição:

 MANUEL BANDEIRA

O poema “Profundamente”, do livro Estrela da Vida Inteira, narra explicitamente as lembranças do poeta numa noite de São João. Além do saudosismo da infância, a composição já apresenta os ideais modernistas de Bandeira.

“Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas (...)”

Já o poema "Na Rua do Sabão", publicado na década de 1920, no livro Ritmo Dissoluto, fala do tradicional balão. Não é exatamente a imagem explícita da festa junina, mas sim a metonímia dela. A partir de um refrão popular, de domínio público, que se repete ao longo do poema, Bandeira leva os leitores à Rua do Sabão e reaviva nessa memória coletiva uma das recordações mais vivas da infância.

“Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!

O que me custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira.
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs
os gomos oblongos...
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame (...)”

CYRO DOS ANJOS

O escritor, que vem de uma tradição junina forte nas Minas Gerais, também apresenta uma grande referência à festa em um capítulo de seu livro O Amanuense Belmiro. Extremamente lírico, o capítulo "Um São João que vai longe" traz o sujeito adulto se lembrando dessa festa que marcou tanto a memória do interior do Brasil:

“Quando vi a fogueira, passei ao largo, com medo de que os meninos me atirassem bombinhas. Mas, mesmo de longe, pude apreciar esse São Joãoalegre e buliçoso, cheio de balões e de vozes gratas da infância.Apesar da literatura que se faz pelo Natal e pelo São João, esses dias continuam inundados de uma poesia própria, que resiste a todas as agressões dos principiantes das letras. Permanecem com sua força evocativa e voltam com aquela pontualidade inexorável para vir lembrar-nos que estamos envelhecendo irremediavelmente.”
    
GRACILIANO RAMOS

O escritor nascido em Alagoas traz para sua literatura reminiscências das festas juninas mais tradicionais do país, no sertão nordestino. Em São Bernardo, um de seus romances mais conhecidos, que narra a ascensão do latifundiário Paulo Honório, Graciliano descreve no capítulo 7 uma festa junina:

“Nas noites de São João, uma fogueira enorme iluminava a casa de seu Ribeiro. Havia fogueiras diante das outras casas, mas a fogueira do major tinha muitas carradas de lenha. As moças e os rapazes andavam em redor dela, de braço dado. Assava-se milho verde nas brasas e davam-se tiros medonhos de bacamarte. O major possuía um bacamarte, mas o bacamarte só desenferrujava nos festejos de São João.”

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 Vale ainda lembrar que um dos poemas mais famosos de Drummond – “Quadrilha” – leva o nome da típica dança realizada nos festejos juninos. Apesar de o enredo do poema não explicitar a temática, o ritmo segue o mesmo dessa tradição junina, possibilitando uma analogia com a troca de pares que acontece em dado momento da quadrilha:

“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.”


ALBERTO CAEIRO

E, por último, mas não menos importante, uma menção honrosa aos portugueses, que trouxeram a tradição da festa junina ao Brasil. O poema “Noite de São João”, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa:

“Noite de São João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de São João.
Porque há São João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.”


  Um presente, para quem chegou até aqui..

  Uma sugestão que chega em maio de  2016 para ampliar a playlist. Mais sugestões serão colocadas abaixo.

 

Acima, uma sugestão que chega neste ano de 2017.
"Vamos beber que amar tá difícil? Amor líquido: forró, anestesia e saudade de Dominguinhos a Safadão."
Aldo Rezende de Melo
Psicólogo
O que chega em 2018

 

 

 

 

Sugestão para quem chega neste junho  de  2023.








Leia também:

domingo, 13 de dezembro de 2015


PLAY LIST - LUIZ GONZAGA COMO NASCENTE E COMO UM RIO PARA A CULTURA BRASILEIRA

Festa junina na escola e qualidade na educação

 domingo, 14 de dezembro de 2014

 Gonzagão no dia do seu aniversário de nascimento. Pense neu.....

 Play list - Gonzaga misturado com a música clássica

 segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Play list - O canto jovem de Luiz Gonzaga





 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Audiência pública sobre os desafios do Ministério da Cultura


Comparecimento do Ministro da Cultura, Sr. Juca Ferreira

Comparecimento do Ministro quarta-feira, 20/05/2015, 15h, no Plenário 10 do Anexo II da Câmara dos Deputados.

Acesse o aúdio da audiência pública... aqui 

Acesso o video da audiência pública.. aqui 



Ministro vai à Câmara para tratar de desafios do MinC

19.5.2015 - 18:15  

Transmissão ao vivo - dia 20.5.2015 às 15h
Ministro falará, na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, sobre  desafios da pasta para os próximos anos (Foto: Janine Moraes)
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, participa nesta quarta-feira, dia 20, às 15h, de audiência pública na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. A participação é resultado dos pedidos das deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Luciana Santos (PCdoB-PE) e do deputado Giuseppe Vecci (PSDB-GO). A ideia dos parlamentares é abrir um diálogo com o ministério para saber as perspectivas desta gestão, os desafios do MinC para os próximos anos e os projetos prioritários da pasta no Legislativo.
No último dia de 28 de abril, o ministro Juca Ferreira teve encontro semelhante no Senado Federal, quando ouviu dos senadores a preocupação com a manutenção de políticas de proteção ao patrimônio de cidades históricas e reivindicações de apoio à renovação da Lei Rouanet. Com mais de 20 anos, a Lei Rouanet (8313/91) é a que viabiliza que produtores culturais consigam a autorização do governo federal para captar recursos por meio da renúncia fiscal de seus patrocinadores. O modelo atual permite que haja concentração regional de recursos em grandes projetos. A reforma da atual legislação, que tramita no Senado dentro do projeto do ProCultura (PLC 93/2014), objetiva quebrar esta distorção e promover de forma proporcional a distribuição dos recursos entre as regiões do País.  
Além do ProCultura, uma das propostas prioritárias da agenda do MinC é a que prevê alteração na Constituição, a PEC 241/2014, para escalonar a destinação de recursos à cultura. O projeto estipula a aplicação mínima de recursos do Orçamento por parte da União, estados, Distrito Federal e municípios. Ela está, no momento, em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara. Para ser promulgada, ainda precisa ser aprovada em dois turnos tanto no plenário da Câmara como no Senado. 
Diante do contexto de contração econômica, esta última proposta tem mais viabilidade de aprovação do que a conhecida PEC 150/2003 – que define a aplicação na área cultural de um mínimo de 2% do Orçamento da União e os percentuais de 1,5% e 1%, para os Estados e Municípios, respectivamente. 
De olho no apoio e valorização da diversidade cultural, está o projeto de lei que institui o programa de proteção aos mestres e mestras de saberes e fazeres das culturas tradicionais. A proposta inclui a titulação oficial deles como mestres, a inclusão em um cadastro nacional e a remuneração com valor equivalente ao de bolsas de mestrado concedidas por agências federais de incentivo. O projeto ainda tem um longo percurso de tramitação, que precisa ser concluído na Câmara e passar pelo Senado. 
A audiência pública com o ministro Juca Ferreira será no plenário 10, anexo II da Câmara dos Deputados. O evento terá transmissão ao vivo e pode ser acompanhado pelo site do Ministério da Cultura
Camila Campanerut 
Assessoria de Comunicação 
Ministério da Cultura 
 Leia também:

Juca Ferreira: “A TV aberta no Brasil é de uma pobreza absoluta”


junho 18, 2015 14:02- Fonte: Revista Fórum
Juca Ferreira: “A TV aberta no Brasil é de uma pobreza absoluta”
Na segunda parte da entrevista exclusiva concedida à Fórum, o ministro da Cultura avalia a atuação da grande mídia no país, alerta para o “monopólio de opiniões” dos meios de comunicação, comenta os protestos pró-impeachment e adianta as ações planejadas pela pasta para os próximos anos; confira
Por Maíra Streit
O ministro da Cultura Juca Ferreira faz uma avaliação bastante crítica quando o assunto é a atuação da grande mídia no país. Na segunda parte da entrevista concedida à Fórum, ele afirma que a concentração de poder dos meios de comunicação gera um monopólio de opiniões bastante nocivo à democracia. Segundo Ferreira, a baixa qualidade da programação televisiva seria outro problema e isso pode ser percebido pelo afastamento dos espectadores, sobretudo os mais jovens.
O ministro fala ainda sobre a necessidade de enfrentar a corrupção no Brasil, disseminada em diferentes áreas e partidos políticos. Para ele, a imprensa deveria ter, nesse caso, uma participação mais efetiva e menos “oportunista”. “A sociedade brasileira está precisando de uma comunicação que retrate essa complexidade do país e possibilite que a gente dê um passo adiante”, sentencia.
As manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff também foram debatidas durante a conversa, que abordou, entre outros assuntos, os próximos passos do ministério, os direitos autorais em tempos de internet e o movimento pernambucano Ocupe Estelita.
Confira abaixo.
Fórum – O senhor é simpático à ideia de incorporar, nesse novo momento do ministério, a mídia independente. Poderia falar um pouco sobre isso?
Juca Ferreira – Apoio plenamente. Acho que a gente precisa ampliar. Não simpatizo com a ideia de “controle social”. Acho que são palavras dúbias que podem ter uma conotação muito negativa. Acho que é democratizar a mídia, colocar possibilidade de muitas opiniões em torno de todas as questões que são relevantes para a sociedade. Sou a favor de qualificação do ambiente da comunicação, que é pobre.
A TV aberta no Brasil é de uma pobreza absoluta. E as novas gerações, inclusive, a estão abandonando. Eu vejo pelos meus filhos. Tenho um de quatro anos e um de catorze. Eles quase não veem televisão. O de catorze só liga quando o Real Madrid está jogando ou quando o Corinthians está jogando, que são os dois times da afetividade dele. Ele vai do Netflix em diante. Não se interessa, não tem mais conexão, não tem o que oferecer. O pequeno só assiste TV a cabo e Netflix. Na TV a cabo, é [o desenho] “Peppa Pig” e outros, “Peixonauta”…
Fórum – Sobre a questão do midialivrismo, que é uma quebra de paradigmas muito forte, até porque no Brasil nós temos uma concentração total dos meios de comunicação tradicionais…
Ferreira – E um monopólio de opiniões impressionante! Editorializam a notícia de uma forma tão grande…
Fórum – Que acaba virando uma verdade absoluta.
Ferreira – É. Uma vez, eu tive vontade de escrever para aquele jornalista que conduz o Observatório da Imprensa, Alberto Dines, que é uma pessoa inteligente, íntegra. Queria que ele acrescentasse um elemento naquele programa dele, que seria “os que são entrevistados”. Tem o público leitor e os que fazem a comunicação. Mas pessoas como eu têm muito a dizer porque [jornalistas] mentem, sobredeterminam nossas opiniões, esquartejam trechos de uma opinião para poder dar um significado diferente, editorializam. Vêm apenas na conversa coletar aspas para confirmar uma tese anterior, acrescentam palavras tipo “admite”, criando um clima de suspeição em relação ao que a gente faz. É um desastre.
Eu, inclusive, não tenho grandes estímulos para conversar com a grande mídia. Vou dar um exemplo. Quando eu percebi que havia a possibilidade de a Dilma me chamar para ser ministro da Cultura, mesmo sem saber se seria… Eu fui chamado no dia 29 de dezembro, mas havia a possibilidade, à medida em que me chamou para coordenar a parte da cultura da campanha. Eu comecei a preparar o meu discurso.
Era um discurso programático.
Aí, um dos grandes jornais, um dos que mais vendem no Brasil, pediu uma entrevista à tarde. Eu fiz o discurso de manhã. Eu pensei que iam questionar, criticar. Ignoraram o discurso e fizeram duas perguntas sobre futricas: por que eu tinha trazido dois – depois passaram a três – jovens do Fora do Eixo, que é uma rede social, uma organização que eles querem execrar porque são muito críticos e tinha participado de um programa na TV cultura que teve uma grande repercussão de críticas aos limites da comunicação no Brasil. E a possível futrica entre eu e Marta [Suplicy]. Não tinha interesse nenhum pelo destino da cultura brasileira. Tinha uma oportunidade enorme. Então, quer dizer, isso é decepcionante.
Eu perguntei à jornalista: “A senhora não tem interesse por nenhum tema cultural?”. Isso é imprensa marrom. É o que antigamente chamavam de imprensa marrom, uma imprensa que não lida com a realidade, não procura construir. Façam uma crítica. Criem a possibilidade de eu responder à crítica, mas o interesse é futrica. E isso é para quê? Para emoldurar negativamente algo que cresceu com a expectativa social alta, que é, no caso, a minha gestão aqui. É muito ruim para a sociedade em um momento em que o Brasil está diante de perplexidades. A democracia mostra limites.
Produziram essa grande distribuição de renda no Brasil que, por mais precária que seja, é uma mudança de paradigmas na sociedade brasileira porque, até então, a desigualdade, uma das maiores do mundo, era considerada natural. Cometeram erros, erros que estão evidentes. Então, é preciso discutir tudo isso.
É preciso abrir o leque para compreender o fenômeno da corrupção, que não é o fenômeno de uma família política ou de um partido, mas na verdade é o modus operandi da sociedade brasileira, que vai desde o indivíduo, o cidadão individual diante do guarda de trânsito, até a CBF. Na verdade, a sociedade brasileira incorporou a corrupção quase como um mecanismo legítimo e é exercitado praticamente…
Fórum – Por todas as áreas.
juca 5
Sobre a atuação de alguns veículos de comunicação: “Mentem, sobredeterminam nossas opiniões e esquartejam trechos de uma opinião para poder dar um significado diferente” (Foto: Janine Moraes/MinC)
Ferreira – Por todas as áreas. Dentro da política, por todas as famílias políticas. E já há muito tempo. Então, o tratamento parcial impede de a gente chegar a uma solução. Quantos “carnavais éticos” a gente já viveu nos últimos anos? Eu me lembro em torno dos “anões do orçamento”, que deu a impressão que a gente ia dar um salto. Mas o tratamento é sempre com um foco muito restrito. E os demais se aproveitam para execrar aqueles que foram pegos com a boca na botija.
E também para manterem seu modus operandi como é. Depois veio o Collor, depois veio… Eu até me esqueço, mas tiveram uns dez “carnavais éticos” que passam essa sensação para a sociedade de que há, de fato, uma tentativa de superar esse nível de corrupção. Mas, na verdade, é um manuseio da corrupção para fins políticos menores. A verdade é essa. Não há, de fato, um compromisso.
E a mídia teria uma responsabilidade grande, se abrisse o leque e mostrasse exatamente que é um modo de operar as coisas públicas generalizado. Eu sinto que a mídia está devendo ao país. A mídia participou como apoio ao regime militar. Hoje, os editoriais fingem que foram contra. Fazem uma correção de rumos que tem uma dose de oportunismo porque não assumem os erros que cometeram. Vá em uma dessas emissoras e peça para ver editoriais de seus jornais no dia do Ato Institucional Nº 5.
Fórum – Na internet, inclusive, já circulam alguns desses editoriais.
Ferreira – É só ver os seus editoriais. E, depois, estão corroendo a democracia diariamente, desconstruindo o país. A negatividade é o tônus desses meios de comunicação. Então, os jornalistas que se rebelam e buscam construir – mesmo que de uma forma ainda romântica, sem perspectiva de afirmação – certamente vão encontrar o caminho porque, quando as coisas têm que acontecer, nada impede que aconteçam. E a sociedade brasileira está precisando de uma comunicação que retrate essa complexidade do país e possibilite que a gente dê um passo adiante.
Fórum – O senhor vê, por exemplo, a influência dessa mídia tradicional nos protestos a favor do impeachment?
Ferreira – Claro. Eles são força auxiliar. Eles mobilizam, constroem legitimidade, eles dizem quem pode governar e quem não pode governar. Eles transformam em heróis pessoas que, quando você bota a lupa, percebe que é mais corrupto que os que estão sendo criticados. Esse negócio da CBF, se o Romário levar às últimas consequências a CPI que está montando, isso vai dar o que falar. Isso vai até a dimensão política do manuseio do futebol, que é um dos patrimônios imateriais da sociedade brasileira, e que é manipulado até a última gota.
Manipulado para enriquecimento e que impede que, no país do futebol, floresça um futebol profissional e de qualidade.
Depois que eu saí do ministério, fui trabalhar na Espanha. Morei dois anos lá. E a Espanha não era um país do futebol. Eu não vou dizer que a Espanha era um país de pernas de pau, mas era um país de segundo nível na constelação. E eles começaram, prenderam os corruptos, desenvolveram uma política para o futebol de base, profissionalizaram no sentido completo da palavra, possibilitando que, de fato, florescessem times com estruturas mais profissionais. Qualificaram os jogadores, os contratos. Não adianta três ou quatro virarem estrelas e ganharem fortuna e o resto rapidamente se tornar peças obsoletas, sem nenhuma condição de sobrevivência.
O Brasil precisa fazer algo, mas vai ter que destampar completamente. Romário está se propondo a isso, mas acho que ele tem que ter apoio da sociedade no sentido de levar às últimas consequências e não repetir esse tipo de “carnaval ético” que a gente tem feito com outros temas.
Veja a primeira parte da entrevista aqui
Fórum – E, voltando à imprensa, não é só, especificamente, a questão das manifestações, mas toda uma onda conservadora que está vindo com força.
Ferreira – E foi aí que se mostrou a maior fragilidade porque foram com muita sede ao pote. Tentaram desconstruir a relevância do que foi construído pelo presidente Lula e, ao fazer isso, se associaram imediatamente a setores golpistas da sociedade, que querem a ditadura militar de volta, setores racistas, setores que execram a emancipação da mulher, setores que pregam a violência, o extermínio, a justiça pelas próprias mãos, a intolerância religiosa.
Quer dizer, o que esse movimento conservador – que a imprensa manipula e manuseia diariamente – revelou para o país é o que é inaceitável. É inaceitável pelas mulheres, é inaceitável pelos negros, é inaceitável pela juventude, já que querem rebaixar a maioridade penal para culpabilizar a juventude pelo nível de violência do país.
Protesto na avenida Paulista pede impeachment de Dilma Rouseff
Para o ministro, atos pró-impeachment foram incentivados pelos grandes meios de comunicação: “Eles mobilizam, constroem legitimidade, eles dizem quem pode governar e quem não pode governar” (Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas)
É inaceitável sob o ponto de vista das conquistas dos direitos individuais. Eles são contra até bicicletas nas cidades! Então, quer dizer, esse Brasil que eles querem, foi bom até que tenha vindo à tona porque está possibilitando que as pessoas reajam. E, mesmo tendo críticas aos erros que foram cometidos nesses 12 anos, erros de política econômica, erros na área da corrupção, erros na área de não ter desenvolvido políticas para qualificar o Estado e seus serviços…
Mas, mesmo assim, a grande maioria do país não quer retroceder, não quer ir para a Idade Média, nem para o período da ditadura militar. Não quer jogar na lata do lixo as conquistas pela igualdade das mulheres, nem do combate ao racismo. Pelo contrário, a sociedade quer ir adiante. E aí é que eles revelaram a debilidade deles. Por trás de todo o discurso moralista, na verdade vem uma ameaça a todas as conquistas do povo brasileiro e isso, em algum momento, a sociedade já começou a reagir. E acho que o ponto de reversão virá por aí, com ou sem os partidos.
Fórum – E essa questão acaba fortalecendo a formação de um Congresso que já é muito conservador. Aliás, o mais conservador desde 1964. E pudemos ver isso na discussão em torno da reforma política.
Ferreira – A reforma política é um aspecto importante do momento em que a gente está vivendo. A redemocratização no Brasil já tem uma experiência que é preciso ser analisada e ser criticada; que as forças políticas criem mecanismos para que a sociedade produza a superação dos limites e produza uma democracia mais densa, com um nível maior de representatividade, com a qualidade melhor do sistema representativo, com níveis de participação mais ampla.
Acho que quem defende e quem compreende a importância do Estado para uma sociedade democrática e para o Brasil avançar, não pode usar o Estado como motivo de guerra. O Estado precisa ser valorizado. Precisamos construir um Estado democrático no Brasil com mecanismos, com instituições fortes. Não é militarmente forte. Forte é com alto grau de legitimidade, com capacidade de oferecer serviços de qualidade, saúde de qualidade, educação de qualidade. Incrementar políticas culturais importantes. Então, a gente está diante, está em um momento de perplexidade, mas está em um momento de muita possibilidade de construir o futuro do Brasil.
O Brasil é a sétima economia do mundo. É um país que tem recursos naturais, que tem uma infraestrutura econômica instalada, temos uma capacidade criativa reconhecida no mundo inteiro. Então, não há porque ficar pessimista. A gente está enfrentando um problema, foram cometidos erros, é preciso que se assuma diante da sociedade com toda a transparência. E que a gente consiga alavancar um programa de continuidade das transformações na sociedade brasileira.
Esse programa reacionário que está aí tem que ser execrado. Estão molestando pessoas que estão lendo Carta Capital, por exemplo, no avião.
Fórum – Ou porque estão usando qualquer camisa vermelha.
Ferreira – Correram atrás de um cachorro porque tinha um coletezinho de cor vermelha. Isso se assemelha muito aos momentos que antecederam o Fascismo e o Nazismo. São irracionalidades sociais, são os medos, o ódio; a intolerância religiosa faz parte desse pacote reacionário.
É preciso que o Brasil transforme em valor fundamental essa liberdade de crença ou de não crença. É um país reconhecido no mundo inteiro com essas possibilidades de convivência de credos diferentes, e há uma construção de um ódio, uma intolerância, uma demonização de certas religiões, principalmente as de matriz africana. Então, é preciso que a sociedade reaja. E todo cidadão tem que se engajar na construção desse Brasil que a gente quer.
Fórum – Ministro, nós abrimos a entrevista para sugestões de alguns leitores. E a Lidiane de Souza Monteiro, do Recife, quer saber a sua opinião sobre o movimento e a luta pelo tombamento do cais José Estelita.
Ferreira – Olha, eu fui procurado pelo movimento, pelo prefeito, e eu vou ampliar o meu diálogo porque é o seguinte… O cais Estelita, a área em questão, não é relevante sob o ponto de vista de patrimônio histórico-cultural. E não é relevante do ponto de vista do patrimônio ferroviário.
Por mais simpatia que eu tenha com a luta, eu não me proponho a colocar, a vulgarizar o IPHAN [Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional], para dar um parecer que não seja correto dentro do que a legislação prevê. Agora, ali é relevante sob o ponto de vista de reserva para a cidade retomar um processo de planejamento e de contenção da especulação imobiliária. Isso a legislação prevê. Aquela área também é importante como patrimônio paisagístico.
Mas o ordenamento e o uso do solo é uma questão de âmbito local. E é preciso que as instituições locais ouçam a população. A cidadania está indignada com a possibilidade de aprovação daquele projeto e o que eles demandam, em última instância, é de que aquilo é uma área estratégica, talvez uma das últimas. Não uma área restrita, onde vai ser levado o projeto, mas uma área mais ampla, que já tem outros projetos imobiliários.
Então, o ministério está fazendo estudos técnicos. Dentro de pouco tempo, nós vamos nos posicionar. Agora, minha posição pessoal é de muita simpatia pelo movimento. No Brasil inteiro estão explodindo manifestações. Já tivemos um nível de manifestação sobre a mobilidade urbana, que é produto desse crescimento desordenado e pela opção do carro individual como meio de transporte. Temos manifestações contra a baixa qualidade dos serviços de saúde. Temos uma consciência social e acredito que precisamos melhorar o padrão, hoje, da educação no Brasil. Então, as políticas públicas estão sendo criticadas pela população e há uma demanda pela melhor qualidade.
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Sobre o ‘Ocupe Estelita’: “Eu tenho muita simpatia não só por ele, mas por outros movimentos urbanos que estão se produzindo nas grandes cidades brasileiras” (Foto: Mídia Ninja)
Agora, nós estamos vivendo uma demanda de políticas urbanas. Com maior profundidade, enfrentando os problemas da cidade. Tem décadas. Se não me engano, no primeiro censo da década de 1960, só 20% da população brasileira viviam em algum tipo de cidade. Houve uma migração e hoje nós temos mais de 80% vivendo em cidades. E esse crescimento, esse inchaço da sociedade brasileira, não foi acompanhado de políticas públicas no sentido de minorar os impactos ambientais, sociais e urbanísticos, com raras exceções. A especulação imobiliária e a ocupação desordenada do solo se instalou.
Então, temos quase uma inviabilidade dessas cidades brasileiras. São Paulo, Rio, Recife, quase todas as cidades. Até cidades planejadas como Brasília e Belo Horizonte sofrem o impacto desse crescimento desordenado, acompanhado às vezes de falta absoluta de presença do poder público, no sentido de regular e de racionalizar esse crescimento em um nível do possível, pelo menos.
E esses movimentos por uma correção de rumos, sob o ponto de vista das cidades, é fundamental para o futuro do Brasil. Eu tenho muita simpatia não só por ele, mas por outros movimentos urbanos que estão se produzindo nas grandes cidades brasileiras e que, de alguma maneira, as instituições democráticas têm que ouvir, dialogar, não pode ignorar. A tendência em Recife é que as instituições ignoram essa demanda. Tratam como se fosse algo exótico, esdrúxulo e externo às suas funções.
É bom lembrar que, na democracia, o poder é exercido em nome do povo, pelo povo e para o povo. Então, não há como escapar de se relacionar. É importante que se considere a força desses movimentos, antes que a gente gere um impasse e uma descrença absoluta na democracia por parte da população brasileira. Eu, pessoalmente, vejo com muito bons olhos.
Eu não posso é transferir para cá a decisão porque existe o pacto federativo, existe a responsabilidade do município. A Constituição de 1988 nivelou a responsabilidade e a importância das três instâncias: federal, estadual e municipal. E essa instância do ordenamento e uso do solo é do âmbito dos poderes locais, da prefeitura, da câmara de vereadores, de outras instituições que compõem a estrutura do Estado.
E acho que é preciso assumir a responsabilidade de dialogar e de dar uma resposta à demanda do movimento em torno do cais Estelita.
Fórum – Para encerrar, qual sua avaliação desses primeiros meses de gestão? 
Ferreira – Eu encontrei um ministério enfraquecido. Um medo de assinar, por exemplo. Então, a transferência para os artistas e para a área cultural de responsabilidades onde não há uma clareza aritmética, em que se pede a devolução de dinheiro, misturando quem fez corretamente as coisas com quem não fez. Eu disse à presidenta, na primeira reunião que eu tive com ela, que tinha encontrado um ministério enfraquecido e que ia fazer todo o esforço para recuperar padrões de qualidade no exercício do trabalho aqui dentro das nossas funções. Mas acreditava que em três meses e meio ou quatro a gente teria recuperado.
Estamos construindo isso, a realidade interna já é outra. Nós estamos requalificando as políticas porque o significado da minha volta, em parte, é para retomar políticas, programas e projetos que foram enfraquecidos ou abandonados. Mas em parte eu tenho que reconstituir porque a realidade anda, o Brasil anda muito rápido. Muita coisa já não é a mesma da minha época. Por exemplo, quando nós chegamos ao ministério, pouco mais de 1 milhão de brasileiros tinham acesso a internet. Hoje, mais de 53% dos brasileiros estão conectados.
Então, só isso aí já mostra. Os próprios Pontos de Cultura já exigiam da gente uma modernização. Contamos hoje com a lei do Cultura Viva, que nós regulamentamos. Em todos os aspectos, nós temos que trabalhar daqui para a frente. Recuperar o que de positivo foi abandonado, mas principalmente formular. Nós estamos formulando as políticas. Acabamos de fechar o primeiro ciclo do planejamento estratégico para os próximos dez anos. Estamos detalhando agora o Plano Plurianual e mecanismos de planejamento. Estamos nos preparando para o orçamento para o ano para formular os projetos porque, no primeiro ano, você herda um orçamento e um planejamento feito no governo anterior. Eu sou muito insatisfeito com o que eu herdei, mas isso não é uma discussão relevante. Na verdade, relevante é o que a gente está fazendo.
Fórum  É possível adiantar para nós o que vem pela frente?
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Imagem censurada na página do Ministério da Cultura no Facebook (Foto: Walter Garbe/Reprodução)
Ferreira  Assim, de novidades, primeiro é a política para as artes. Eu já fiz a autocrítica no próprio discurso de posse. Nós conseguimos ampliar o conceito de cultura, dar um atendimento a uma área sociocultural importante no país. Chegamos até os povos indígenas, que, estranhamente no Brasil, a cultura dos povos indígenas não era considerada como parte do trabalho do Ministério da Cultura. Então, constituímos um alargamento do conceito e da dimensão da intervenção do ministério, mas as artes ficaram secundarizadas.
A gente quer recuperar a Funarte e as políticas para as artes. Que políticas para a música são importantes? Qual o papel do Estado junto à música? Na área da economia da música, que está destroçada pela crise da indústria fonográfica, pelo próprio desenvolvimento tecnológico.
Precisamos regular a internet para que eles paguem direito autoral. Na área da música, temos muitas tarefas. Na área do teatro também; na área da dança, na área do circo. Vamos revitalizar as políticas. Vamos fazer um processo aberto. Estou prevendo que, de julho até o fim do ano, nós vamos estar concentrados nisso. Essa vai ser uma das novidades. Sair com um programa e com uma perspectiva de trabalhar as artes e o papel do Estado dentro disso, que dê conta dos desafios do século XXI nessa área.
Na área de cultura digital, vamos retomar o papel que nós temos. Inclusive, já estamos planejando intervenções nos fóruns mundiais, na OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual), na Unesco, defendendo que a Convenção de Proteção da Diversidade, que nós fomos quando éramos daqui. Gilberto Gil foi o principal articulador para viabilizar essa convenção porque ela já era uma proposta de muitos anos e o governo americano conseguia impedir a sua aprovação. E nós fizemos uma articulação com a África, com os países latinoamericanos, com os países asiáticos, e esse reconhecimento é internacional. Gil vai ser homenageado nas celebrações dos dez anos da Convenção. Nós vamos retomar, atualizando a convenção.
Se nós não regulamentarmos democraticamente a internet, garantindo a sua neutralidade, garantindo regras para a intervenção, essas megaempresas que a operam… Vai se estabelecer uma ordem colonial aí de novo tipo, uma ordem colonial digital. Nós tivemos um incidente agora porque o Facebook censurou uma foto do Estado brasileiro. E eu achei que era um erro, podia ter sido uma questão de automaticidade nessa censura. Liguei e eles disseram: “Não, nós estamos submetidos ao tribunal da Califórnia. Nós não nos submetemos à legislação local.
Depois, publicamente, ele corrigiu um pouco o que disse para mim, mas na verdade eles se comportam de uma maneira imperial. Eles é que dizem o que pode e o que não pode, trazendo para o Brasil o puritanismo americano. Não pode aparecer os seios de uma pessoa. Ele chegou a me dizer que se for um seio canceroso, em uma campanha contra o câncer, se for corpo mutilado por uma violência, pode. Quer dizer, a gente já tem muito problema no Brasil para importar o puritanismo americano. Basta.
Então, a diversidade cultural demanda um olhar sobre a internet que possibilite que os povos sejam protagonistas das opções e que a internet expresse isso. Foi um desrespeito aos indígenas. Se para o indígena aparecer na internet precisa se travestir de não-indígena, isso é um etnocídio simbólico de dimensões importantes. É um desafio. Tem uma parte da nossa pauta que eu chamo de “a pauta do século XXI”. O século XXI traz uma série de questões na área da Cultura.
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“A gente não pode retroceder e aceitar espelhinho que venham nos oferecer aqui para manter uma ordem colonial digital” (Foto: Janine Moraes/MinC)
Essa da proteção da diversidade, de exercício dessa diversidade fundamental para a soberania, para o desenvolvimento, e inclusive porque em alguns aspectos nós somos superiores, por exemplo, à sociedade americana. Lá, o moralismo chega a tal ponto que tem criança de nove anos processada criminalmente porque encostou na fila da merenda na menina à frente dele. Isso é um caso real.
Então, quer dizer, a gente não pode importar as mazelas e as dificuldades de outro povo, em uma mentalidade, como dizia Nelson Rodrigues, de vira-lata. A gente tem que ter consciência da importância de nós construirmos e termos uma determinação. Isso não é com xenofobia, nem com isolamento, mas, pelo contrário, com regras civilizadas das relações culturais no mundo. E o Brasil tem uma importância.
O Marco Civil repercute no mundo inteiro. O Marco Civil da Internet. É preciso desdobrá-lo, garantindo essa neutralidade, garantir que não haja privatização de estruturas. Eu não vejo com bons olhos a proposta que o Facebook fez para o governo brasileiro. Aquilo ali é um bombom que eles dão para garantir essa privatização dentro da estrutura da internet. A gente não pode cair nessa cilada.
Nós somos vistos coma admiração e respeito inclusive pelos países europeus que deflagraram processos semelhantes a partir do Marco Civil e do discurso da presidenta Dilma na ONU sobre a espionagem, sobre a necessidade de preservar a internet como um espaço público importante da humanidade. A gente não pode retroceder e aceitar espelhinho que venham nos oferecer aqui para manter uma ordem colonial digital. Então, eu não vejo com bons olhos a proposta.
Acho que a gente tem que avançar em outra direção, na direção da afirmação de algo que o Brasil está preparado para fazer. Nós somos um dos países mais conectados do mundo. E já com uma experiência, um discernimento da importância pública dessa esfera, que é preciso tratar.
E, nas áreas das artes, os pontos de cultura vão ser revalorizados. Estamos dando um novo tratamento, mais amplo. Vamos regulamentar o que é Pontão de Cultura, que estava meio solto o conceito. Ou seja, em todas as áreas, nós estamos construindo. O planejamento estratégico nós estamos fechando agora. Não sei se você reparou, nós revitalizamos a comunicação no ministério. A gente não pode ficar dependendo da honestidade de um jornalista ou de outro na relação com a sociedade.
A gente precisa criar mecanismos também de relação direta. Então, aí entra a mídia livre, os jornalistas que estão buscando criar o embrião de uma nova comunicação no Brasil, mas nós também temos que ter uma inteligência, uma leveza, uma agilidade na área da comunicação. E a gente está construindo isso. Já dá para sentir que a gente trata a comunicação como uma das políticas culturais e não como algo auxiliar, como uma linha auxiliar.
Fórum – E sobre os direitos autorais?
Sobre os direitos autorais, estamos numa luta para garantir os direitos em um ambiente criado pela internet, pela digitalização. Ninguém quer pagar os direitos autorais para os artistas brasileiros. Proporcionalmente, é o maior desequilíbrio da balança de pagamentos. O Brasil paga todos os direitos autorais estrangeiros e não recebe quase nenhum. Os artistas estão sendo prejudicados e a maior economia, a maior escala de direito autoral é no mundo digital.
E aí não há direito autoral no ambiente digital e no século XXI sem o Estado regulador que obrigue que se realize. Nós vamos falar com os artistas. Eu já fiz reunião com o Procure Saber e com o GAP (Grupo de Apoio Parlamentar), são as duas maiores estruturas representativas dos músicos. A gente quer ampliar isso para que possa ir, inclusive, para os fóruns internacionais fundamentados numa legislação brasileira. Eu tenho procurado trabalhar com o Congresso – o Senado e a Câmara – e vamos avançar. E a mudança na Lei Rouanet também, que é fundamental.
Para ler a primeira parte da entrevista com Juca Ferreira, clique aqui.